Mais que necessário para enfrentar momento tão ruim como esse que estamos vivendo no Brasil e no mundo do que delirar. Como venho dizendo, precisamos avançar no pensar grande em todas as áreas (Muito,13/6/10, veja aqui). Temos pensado pequeno, muito pequeno. Pensado dentro do quadrado, sem criatividade e sem conseguir olhar um palmo além do nosso próprio nariz (ou quem sabe umbigo?).
Não proponho um modelo, mas pistas, possibilidades e potencialidades. Uma dessas é a série Delírios Utópicos de Cláudio Prado (//bit.ly/clprado). Produzido com esmero pela turma do Mídia Ninja, os vídeos-depoimentos-reportagens de Cláudio transitam pela política, pelos comportamentos, história, drogas, costumes, enfim, são cultura política no melhor estilo. Ou melhor, culturas, com esse plural pleno.
O lema de Cláudio Prado é “O sonho não acabou porra nenhuma! Pela liberação das energias utópicas” e, nesse momento histórico, sem dúvida, é algo que precisa ser levado muito a sério e com muito bom humor.
Precisamos refazer nossas práticas, sejam elas as políticas, sejam as da educação, cultura, ciência, ambiente, enfim, um repensar profundo para uma radical transformação do planeta que está sendo violentado, tanto pelas intolerâncias, como pela ausência de projetos democráticos que incorporem uma forte participação popular.
Com Cládio tenho uma história curiosa. Em 2003, estava escalado para participar da II Oficina de Inclusão Digital (OID), atividade organizada pela militância ligada aos movimentos sociais e que contava, na época, com o fundamental apoio do governo Lula que se instalava. Na Cultura, Gil e Juca abrigavam a turma jovem que hoje faz as mídias ninjas, realizando importante papel de resistência ao conservadorismo reinante. Um pouquinho antes da finalização da programação da OID, me contaram depois, apareceu um cara se escalando para estar na programação, como assessor de Gil. O resultado é que, no painel final lá estavam Cláudio Prado e eu, imagino que por acharem – e eu concordo! – que tínhamos tudo a ver.
No palco, os delírios utópicos já emanavam, mas com uma enorme esperança de que as coisas iriam mudar de fato. Cláudio bradava: “Sem tesão não há inclusão” e eu, dizia e digo: “a inclusão digital pode acontecer em um ciberparque localizado no meio do muro que liga a escola à rua, constituindo um túnel de passagem, o espaço-tempo da produção cultural, onde poderiam se articular comunicação, educação, saúde, ciência, cidadania, tecnologia, etc. Não como algo à parte, mas integrando à formação do cidadão para a construção de uma nação à prova de futuro”. Nada mais atual!
Por isso insisto: para enfrentar essa nhaca contemporânea precisamos de muitos, muitos delírios utópicos.
Publicado em A Tarde de 22/05/2017, pag. 03. Clique para o pdf da página do jornal.