Artigo de Nelson Pretto: “UFBA: reitor eleito, reitor empossado”

UFBA: reitor eleito, reitor empossado

Terminado o prazo para que fossem apresentados recursos ao processo eleitoral para escolha da nova gestão da UFBA, encerra-se localmente essa etapa do processo formal e caberá à Presidência da República nomear os novos dirigentes.

O momento é de, unidos, defender que a UFBA seja administrada entre 2022 e 2026 pela dupla Paulo Miguez/Penildo Silva. Eles foram os únicos candidatos com a inscrição homologada na eleição que efetivamente deveria valer, mas isso não é tão simples assim. Tento aqui, brevemente, explicar o processo.

A legislação em vigor para escolha dos dirigentes das Universidades é antiga e retrógrada. Ela está centrada em uma lógica hierárquica que super valoriza o voto do corpo docente: caso decida-se por uma eleição ampla na comunidade universitária, o peso dos votos dos professores terá que ser de 70%, ficando os restantes 30% para validar votos de servidores e estudantes. Como a comunidade universitária – na qual me incluo fortemente – é contra esses pesos desiguais e defende uma eleição direta com pesos igualitários para as três categorias, usamos uma brecha da legislação que possibilita que não se faça oficialmente essa eleição, deixando para o colégio eleitoral previsto na lei (composto pelos cerca de 90 membros dos conselhos superiores) a prerrogativa de promover eleição para a composição de uma lista tríplice.

Assim, os nossos sindicatos (APUB, ASSUFBA e DCE), organizaram uma “consulta informal” tendo nela se inscrito apenas a chapa Miguez/Penildo, que foram, assim, os eleitos pelo voto da comunidade universitária.

Posteriormente, e seguindo rigorosamente a lei, o Colégio eleitoral reuniu-se, tendo antes recebido as inscrições dos postulantes aos cargos de Reitor e Vice reitor, sufragando os mesmos Miguez e Penildo em primeiro lugar. Dessa forma, foi composta a lista tríplice exigida pela lei e que agora foi enviada à Presidência da República para nomeação, o que deverá acontecer até meados de agosto próximo.

Sendo assim, para nós, e aqui me incluo como um professor da UFBA e militante da democracia, só existe uma possibilidade, que sempre foi a nossa bandeira: “reitor eleito, reitor nomeado”.

Espera-se da Presidência da República esse comportamento, mas não podemos nos iludir nem tampouco baixar a guarda. Isso porque Bolsonaro não só tem atacado as universidades públicas com palavras, gestos e cortes de verbas, como tem, literalmente, provocado a comunidade universitária não nomeando o primeiro lugar das listas tríplices. Isso já ocorreu em mais de 20 das instituições federais de ensino superior.

A democracia no país, exige, portanto, que o Reitor eleito seja o Reitor nomeado, e isso é algo que deve ser defendido por toda a sociedade e não só pela comunidade da UFBA.

Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA. nelson@pretto.pro.br, publicado em A Tarde, 22/06/22, pag. 03

Pdf da página aqui.

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Interseções entre comunicação, técnica, arte e educação

Curso de Leitura de Cinema III

Curso de Leitura de Cinema III

 

De 27 de setembro a 13 de outubro passado, os cineclubes Vesúvio e CINECITTÀ do Instituto de Letras da UFBA (ILUFBA), em parceria com o cineclube Fruto do Mato (Lençóis-BA) e o programa de extensão Janela Indiscreta, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), realizaram a terceira edição do Curso Leitura de Cinema.

Na programação do Evento as discussões se pautaram nas seguintes temáticas: Procura-se a crítica desesperadamente, em 27/09, com a participação do professor do Centro Universitário UNIFTC, Leonardo Campos; em 29/09, a professora Janaína Vasconcelos, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), conduziu discussões sobre Fotografia Cinemática: decodificando o cosmos diegético; os cineastas Nádia Mangolini (SESC/SP) e Marcus Vinicius Vasconcelos (Estúdio Teremim) conversaram sobre A animação autoral e o formato do curta-metragem, no dia 04/10; já no dia 06/10, a conversa foi em torno de Cinema e literatura: um diálogo intersemiótico, com a presença do educador Juca Badaró (UESB). O quinto encontro (13/10) teve a participação do fotógrafo Miguel Vassy, que encerrou o evento com atividades práticas do uso da fotografia no cinema, cujo tema foi Filmar com o corpo: uma aula de câmera na mão e suas técnicas.

A ação educacional teve 10 horas de carga horária e ofereceu certificados para os participantes. A professora da Faculdade de Educação da UFBA, Kelly Ludkiewicz Alves, uma das organizadoras do Evento, e também integrante do GEC, fez o seguinte comentário sobre o envolvimento do GEC em questões relacionadas ao cinema:
A participação do GEC na promoção do Curso Leitura de Cinema III é importante por contribuir para o acesso a conteúdos relacionados ao cinema, em aulas que apresentaram ao público técnicas audiovisuais, que possibilitaram compreender o processo de realização dos filmes a partir da linguagem cinematográfica. Além disso, a promoção de atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma articulada, promove espaços inclusivos, de formação, debate e valorização da arte e da cultura, que fortalecem a integração entre a universidade pública e a sociedade. Por fim, a realização de um curso utilizando soluções livres para transmissão das aulas é fundamental como movimento político para fortalecermos a importância do livre e do aberto na educação.

Já o doutorando Igor Tairone, também integrante do GEC, participou do Evento como intérprete de Libras. Segundo ele:
Os intérpretes de língua brasileira de sinais são importantes em palestras, cursos e demais eventos por possibilitarem que deficientes auditivos consigam ter acesso ao importante conhecimento produzido, bem como também participarem ativamente das discussões. No cinema, por exemplo, temos as legendas e outros mecanismos para promoção de acessibilidade, o que tornou extremamente positivo que houvesse interpretação num curso sobre a sétima arte, o cinema.

A iniciativa da ação educacional ajuda a firmar a presença do GEC como grupo de pesquisa vinculado às questões das tecnologias e da comunicação, ao trazer para um público mais amplo as interfaces entre ciência, técnica, artes e educação.

Que outros eventos assim possam ser realizados com a presença dos componentes do GEC e que sirvam para ampliar a atuação da Faced-UFBA como impulsionadora de pesquisa em educação de forma transdisciplinar.

Visite o site do Cineclube Vesúvio para obter mais informações sobre as atividades de extensão em cinema e educação na UFBA.

Os vídeos das aulas do Curso Leitura de Cinema III já estão disponíveis no Canal do Curso na plataforma EDUPLAY.

No Canal também estão disponíveis os vídeos do Curso Leitura de Cinema II, realizado em dezembro de 2020, no qual foram trabalhados os temas figurino, roteiro, efeitos sonoros e documentário.

Até a próxima!

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As tecnologias e a nova ordem do capital

Capitalismo de vigilância

A revista Nossa Ciência publicou artigo do doutorando em Educação Cleonilton Souza, membro do GEC, sobre o tema Capitalismo de Vigilância. Capitalismo de Vigilância é um tema transversal, que envolve áreas como economia, sociologia, filosofia, comunicação, tecnologia e educação, é claro.

Leiam o texto aqui no site na íntegra:

Capitalismo de vigilância

O cidadão acorda e vai à padaria comprar pão, passa na farmácia e adquire remédios; depois enche o tanque de gasolina do carro e volta para casa. Se esse cidadão pagou tudo com cartão de crédito, todas essas ações estão agora rastreadas na base de dados do banco.

Além de ter as transações comerciais registradas nas bases de dados, a instituição financeira ainda pode rastrear os comportamentos da pessoa. Com os dados comportamentais é possível, a depender da situação, identificar hábitos, analisar ações ou mesmo prever novas ações da pessoa, como, por exemplo, comprar combustível toda semana, em determinado posto, no mesmo horário. Informações assim podem servir tanto para ações de marketing personalizado, quanto para criar perfis que servirão de base para operações de seguros, seleção em empregos ou aquisição de crédito.

Este estado de coisas é denominado pela pesquisadora Shoshana Zuboff de capitalismo de vigilância, uma nova ordem econômica mundial, bem diferente do capitalismo industrial, cujo sustentáculo era a mercadoria. No capitalismo de vigilância, o suporte econômico é o comportamento humano e quanto mais dados pessoais houver em bases de dados, mais os sistemas terão facilidade em predizer ações humanas e transformar essa nova “mercadoria” em lucros.

O capitalismo de vigilância tem como suporte avançados sistemas de tecnologias baseadas em códigos computacionais, gerenciamento de grandes quantidades de dados e conexão contínua. Empresas como Google e Facebook assumiram posições de destaque no mercado global nos últimos 20 anos por atuarem no capitalismo de vigilância e hoje estão na categoria de maiores empresas do mundo.

Ao ter a própria experiência de vida capturada de forma contínua pelas empresas, o cidadão pode ficar sem proteção e ter os direitos comprometidos diante do poderio de grandes corporações, que acumulam dados da vida das pessoas e não prestam contas sobre o destino dos referidos dados.

Essa vigilância é sutil. Vez por outra, o cidadão em compras fornece números de telefone e CPF sem se questionar o porquê de esses dados serem registrados nos cadastros das empresas ou mesmo assinam termos de compromisso na internet sem ter lido as minutas de tais documentos.

Estas questões precisam entrar no debate público, e o cidadão precisa se reeducar para esse novo mundo do capital e aprender a defender os próprios direitos quando estes estiverem sendo prejudicados por essa nova ordem do capital sustentada pelas novas tecnologias que capturam os comportamentos humanos. E cabe à sociedade criar condições para o cidadão conviver nesses ambientes cuja ordem do capital se pauta na vigilância.

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