A cena cultural baiana

Leio hoje no caderno Prosa d’O Globo a seguinte manchete: Curitiba, cidade literária  falando sobre a efervescência da cena cultural de Curitiba. Na mesma hora lembro de uma conversa com o amigo Bob Fernandes sobre a pobreza dos cadernos culturais dos jornais baianos e da necessidade de que a Bahia tivesse uma presença mais marcante na cena cultural brasileira. Um jornal de cultura, uma revista, ou mesmo algo mais sólido no rádio e na televisão, que fosse um pouco mais além da música. E o que mais me impressiona é que temos, historicamente, uma universidade – a nossa UFBA – que nasce com o seu forte viés cultural, desde a década de 50 com o reitor Edgard Santos com as escolas de música, teatro e belas artes. (Vale a leitura de dois livros de Risério sobre o tema: Avant-Garde na Bahia e Edgard Santos e a reinvenção da Bahia, este publicado pela Versal Editora do nosso baiano José Enrique que, não sem razão, foi para o Rio montar sua editora!). Sentimos falta de resgatar essa forte dimensão da universidade, e isso não é de hoje. E muito ainda precisa ser feito, pensando sempre numa perspectiva mais global. A nossa Edufba, por exemplo, vem fazendo um esforço hercúleo para publicar quase mil livros por ano, nas condições mais precárias possíveis (imagine que a burocracia não possibilita até hoje que os livros possam ser vendidos pela internet com um sistema de comércio eletrônico que viabilizasse sua produção chegar em todo o Brasil de forma mais célere!).

A matéria d’O Globo sobre Curitiba destaca a proliferação de revistas literária publicadas por editoras locais e que movimentam a vida cultura curitibana. Hoje são seis revistas em circulação regular! Claro que isso demanda uma ação corajosa de pessoas, mas precisa, mais do que tudo, de políticas públicas que fortaleçam as iniciativas editoriais e também as bibliotecas públicas, a leitura nas escolas, o fortalecimento da produção pela meninada e muito mais. Já mencionei em outros momentos o caso da cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, que abriga as Jornadas Nacionais de Literatura, num trabalho árduo da guerreira Tania Rösing, que faz da cidade gaucha a cada dois ano a capital brasileira da literatura. Lá, pelo trabalho realizado pelas Jornadas, pela Universidade de Passo Fundo (olha de novo o papel da universidade!) e pela Prefeitura municipal, entre uma jornada e outra, há um intenso trabalho de formação. O resultado? Simples: a média de leitura da população de Passo Fundo é de 6,3 livros por pessoa por ano (igual a da França) enquanto a média brasileira é de 1,3. Simples, não? Não poderíamos ter uma ação mais contundente para avançar um pouco mais neste campo? Penso que sim. Imagine que hoje temos nove universidades públicas – sendo cinco federais e quatro estaduais – mais os inúmeros campi do IFBA, todos espalhados pela Bahia, podendo se constituírem em polos produtores e irradiadores de cultura e de ciência, e tudo isso em rede (de novo, cade a política de implantação de uma rede decente de internet em banda larga na Bahia?). Na próxima semana estarei em Baixa Grande, onde o secretário de educação – que foi bolsista nosso na UFBA – está organizando uma semana pedagógica que inclui oficinas de rádio web, lançamento de livros, palestras e a presença – ainda tímida, inicial – da EDUFBA com a apresentação para a comunidade local de vários livros produzidos pela editora. Livros esses que, depois de seis meses, além de estarem disponíveis para serem comprados como produto físico – o livro – também ficam com o seu conteúdo liberado no repositório da universidade para serem baixados gratuitamente. Minha expectativa é poder um dia, o mais breve possível, ler nos grandes jornais brasileiros uma manchete como essa do Prosa de O Globo, mas com uma pequena mudança: “Bahia, estado literário”!

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