Mudanças na Educação

Nelson Pretto – Diretor da Faculdade de Educação da UFBA – www.pretto.info

Ao longo dos últimos oito anos, por dois mandatos, estivemos, eu e Mary Arapiraca, à frente da Faculdade de Educação da UFBA. Nesse momento, a comunidade da FACED já escolheu as professoras Celi Taffarel e Iracy Picanço para assumir, a partir de janeiro próximo, a Direção dessa unidade da UFBA, que tem atuado de forma intransigente na defesa da educação pública em nosso país.

Nesses período, entre todas as ações que empreendemos no sentido de administrar tal unidade, que, além dos seus cursos de Pedagogia, aqui e em Irecê, Ciências Naturais e Educação Física, atende às demais licenciaturas da UFBA , também atuamos intensamente na luta pela construção de uma sociedade solidária e justa. Somos, essencialmente, uma Faculdade cuja missão maior, em termos de graduação, é a formação de professores. Na pós-graduação, o nosso Mestrado e Doutorado têm formado profissionais que atuam, especialmente na Bahia e no Nordeste, na busca de fazer, cotidianamente, uma forte articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. Essas ações acadêmicas e científicas foram desenvolvidas, ao longo desses anos, por professores, estudantes e servidores que compreenderam o que queríamos quando, em 2000, dizíamos que nos propúnhamos a construir “uma escola sem rumo”. Queríamos “um projeto coletivo com ritmos próprios” e não pré-estabelecidos, pensado em conjunto com a comunidade da FACED, da UFBA e de toda a sociedade baiana, para que a atuação de uma universidade pública não se desse de forma monolítica, impondo práticas e ritmos iguais para todos. Sabemos que, com isso, andamos na contra-mão do famigerado mercado, e isso nunca foi problema para nós. Dizíamos que precisávamos respeitar e, mais do que isso, valorizar as diferenças, porque urgia a construção de um outro espaço educacional e comunicacional, que tivesse como base as redes de relações. Queríamos a construção de uma faculdade de e-ducação, pegando emprestado essa expressão já usada em outras áreas, onde o “e” está associado ao eletrônico do mundo digital, mas que para nós tem uma dimensão muito maior, onde é também rede e comunicação, bem como o estabelecimento de intensas conexões que respeitem os nós interconectados, todos com alto valor, e, assim, considerando a diferença como algo a ser enaltecido.
No particular da pós-graduação, lutamos ao longo de todo esse tempo, para que fosse cada vez mais integrada ao conjunto da Faculdade, o que exigiu uma mudança de cultura, uma vez que, como dissemos em nosso plano, desde a sua origem, experimentamos a separação e isolamento da pós com a graduação e a extensão.

Nesses quase oito anos de luta em defesa da universidade pública – luta insana, é bem verdade – enfrentamos, junto com significativa parte da UFBA, o governo FHC e o quase-desmonte do sistema público como um todo e a explosão das faculdades privadas no Brasil. Hoje, por conta daquela leviana política expansionista, muitas delas estão quase que totalmente “quebradas”. Agora, no governo Lula, para nosso espanto, fomos surpreendido, logo no seu início, com propostas de desvinculação das Universidades públicas do sistema básico de educação e, depois, com a implementação de uma politica de salvação do frágil sistema privado, mediante a criação do PROUNI. Agora, os projetos de reestruturação das universidades públicas aparecem através do anúncio de aporte de verbas, o que, diga-se de passagem, é louvável, já que há muito tempo não contávamos com recursos para o sistema público. Porém, esses projetos vêm acompanhados de um lógica de metas e produtividade que é incompatível com o que entendemos ser educação. Isso porque, de um lado, precariza o trabalho dos professores e a própria formação dos estudantes e, de outro, porque pode comprometer a necessária integração do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. Essa é uma luta sem fim. Em breve, outros colegas assumirão a direção da FACED e, esperamos, possam dar continuidade à luta em defesa desse patrimônio público que é a nossa UFBA.