Não matem o museu de C&T da Bahia

Preparava-me para escrever aos três candidatos à Reitoria da nossa Universidade do Estado da Bahia (UNEB) que estão em campanha na busca de obter apoio da comunidade para administrar a maior universidade multicampi do estado, presente em 24 municípios baianos. Minha cobrança pública seria em relação ao destino do histórico Museu de Ciência e Tecnologia, cujo prédio na Boca do Rio está ocupado pelo setor de extensão da Universidade, tendo sido praticamente destruído o belo projeto liderado pelo então governador Roberto Santos. Cobrança esta já feita publicamente à Uneb aqui mesmo em A Tarde, quando da outorga do título de doutor honoris causa ao presidente da Academia de Ciências da Bahia, ex-reitor e ex-governador Roberto Santos. Na oportunidade todos mencionaram a criação do referido Museu como uma importante obra do homenageado sem, no entanto, pronunciar uma só palavra sobre a sua reconstrução.

No final do mês passado, pelo decreto estadual nº 14.719, o Museu de Ciência e Tecnologia – (MCT) foi transferido da Secretaria de Educação – portanto da UNEB – para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), assim como foi para a SECTI o histórico Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), que desempenhou importante papel na pesquisa e desenvolvimento da Bahia nos anos 1970/1980.

Desde muito a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/Bahia) e toda a comunidade científica baiana vem reclamando da ausência de uma sólida política de divulgação científica em nosso Estado, o que, evidentemente, inclui o fortalecimento do Museu da Boca do Rio e muitas outras ações, tanto no campo museológico como numa maior utilização da mídia.

A comunidade científica nacional também está atenta e já se manifestou, a exemplo do prof Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência de Pernambuco, uma das bem sucedidas experiências de divulgação científica através de museus do país. A carta do prof Pavão, que também é vice presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), dirigida ao governador da Bahia, resgata um pouco da nossa história: “acredito que esta nova vinculação estrutural não será impedimento para o bom funcionamento do MCT BA (um projeto pioneiro no Brasil, que marcou história ao ser inaugurado em 17.2.79, com o título de “I Museu de Ciência e Tecnologia da América Latina”, apenas uma década após o Exploratorium de S. Francisco, CA (1969), museu de ciência referência no mundo e onde a equipe que fundou o MCT BA foi treinada, naquele tempo sob a direção do ícone Franck Oppenheimer).”

Quando da inauguração do Polo Tecnológico da Bahia, na av. Paralela, tive a oportunidade de manifestar nas conversas com autoridades e parlamentares lá presentes, nossa preocupação com o fechamento do histórico e belo Museu da Boca do Rio – hoje incrustado no coração de Salvador – já que se anunciava para lá a criação de um novo espaço para museu.

Agora, com o decreto recém assinado, nosso temor aumenta, já que no seu art. 4º está previsto que “a SECTI e a UNEB deverão promover, no prazo de 180 dias, os atos necessários ao remanejamento, transporte ou transferência, mediante inventário, do acervo técnico e patrimonial mobiliário afetados ao MCT”, sem, no entanto, mencionar para onde esta transferência ocorrerá, o que, implicitamente, indica a não utilização do atual prédio da Boca do Rio.

Mais do que preocupante, isso é grave. A manifestação dos colegas de Pernambuco também foi explicita neste sentido, já que o decreto não indicou se “o prédio do MCT BA, fazendo parte desta história como marco arquitetônico da museologia científica [seria] preservado exclusivamente para suas atividades de educação e popularização da ciência”, como todos defendemos.

Este texto, antes pensado exclusivamente para ser dirigido aos três candidatos à reitoria da UNEB, agora tem entre os seus destinatários, os Exmos Governador da Bahia e Secretário da SECTI que precisam, urgente e publicamente, assumir um compromisso com a história, a ciência e a tecnologia em nosso Estado.

Por favor, não matem a nossa história! Salvemos o Museu de Ciência e Tecnologia da Boca do Rio.

PS:

Logo após publicação do artigo em A Tarde, o amigo Luiz Guilherme Pontes Tavares escreveu publicamente um ótimo comentário no facebook, que repoduzo aqui:

“Caro amigo, cumprimento-o pelo artigo que publica hoje em A Tarde. Acompanhei como repórter da Secom/Governo do Estado a criação, construção e inauguração do Museu de ciência e Tecnologia, equipamento concebido pelo Governador Roberto Santos como parte do Parque de Pituaçu. Ele cuidava, com entusiasmo, de cada detalhe. Lembro, por exemplo, do modelo simulado da Barragem de Pedra do Cavalo, que integrava o acervo depois de servir aos engenheiros da obra. Lembro das obras de arte de doutor Brochado, resultado da injeção de resinas coloridas da rede de veias e arterias dissecadas e que impressionavam pela beleza e pelo valor como ferramenta didática. Endosso, também, seu reparo à Bahia pelo fim do Ceped, importante pólo de inteligência de busca de soluções para desafios nos mais diversas áreas. Espero que o Governo Jaques Wagner homenageie o ex-governador devolvendo ao Museu a sede que lhe foi destinada na década de 1970. Abraço forte, Luis Guilherme”

 

Localizei também um post no blog de Mariana Carneiro falando sobre o museu.

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