Deliciei-me esses dias ao ler o absolutamente delicioso A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery.
Um livro muito bom que conta o relacionamento de uma zeladora (concierge) de um prédio chique de Paris, Michel Reneé, com a jovem Paloma, de quase 12 anos, filha de uma família ricaça.
O livro é encantador e merece ser lido mas, aqui nessa pequena nota para reavivar esse meu blog (que ficou meio de escanteio em tempos de twitter – em breve volta a falar sobre o tema), eu transcrevo uma pequena reflexão onde a astuta, sensível e simpática – para mim, não para os moradores do número 7 da Rue de Grenelle – recebe através de um boy o manuscrito de uma tese da fraquinha irmã de Paloma. Reneeé, morrendo de curiosidade, vai lendo a tal tese, analisa o trabalho da moçoila e, claro, da universidade.
Michel Reneé:
"(o trabalho) [é] sideral, inebriante como o mau vinho e sobretudo muito revelador do funcionamento da Universidade: se você quer fazer carreira, pegue um texto marginal e exótico (a suma lógica de Guillaume d’Ockham [no caso do trabalho dela]), ainda pouco explorado, insulte seu sentido literal procurando nele uma intenção que o próprio autor não tinha percebido (pois todos sabem que, em matéria de conceito, o não-sabido é bem mais poderoso do que todos os desígnios conscientes), desforme-o até o ponto de ele apresentar semelhança com uma tese original (é a força absoluta de Deus que fundamenta uma análise lógica cujas implicações filosóficas são ignoradas), queime, enquanto isso, todos os ícones (o ateísmo, a fé na Razão contra a razão da fé, o amor pela sabedoria e outras baboseiras caras aos socialistas), dedique um ano de sua vida a esse joguinho indigno, às custas de uma coletividade que você acorda as sete da manhã, e mande um boy à casa do seu orientador de tese."
Bom, vá ler o livro. Enquanto isso, pense um pouco sobre as nossas universidades.