Estou hoje aqui só de passagem. A inesperada partida de Jânio Soares, o “dono” desse lugar em A Tarde, muito me emociona. Confesso que, como muitos dos seus leitores, ainda estou sem acreditar que aquele cara bem humorado e lindamente ligado à sua família tenha deixado esse buraco nessa página e em nossas vidas. Oh! Janinho, por que essa saída assim tão brusca? Conhecia o seu texto desde um bom tempo e ficava encantado com sua leveza. Certo dia pensei que uma boa ideia seria arrumar uma viagem de férias para visitar Paulo Afonso, a Chesf, os cannions do São Francisco e, claro, conhecê-lo. Um único encontro presencial no hotel no qual estávamos hospedados foi o suficiente para nos unir em quinzenais trocas de cartas, opa, não eram cartas, mas quase isso, pois ele só usava SMS e e-mail. A cronica quinzenal, que já lia regulamente como assinante do jornal, eu também a recebia através do meu amigo Cacá, outro seu apaixonado leitor, que fazia questão de enviá-la com uma foto do jornal impresso, seguido apenas de um “ói ele!”. Era uma forma de, entre nós, eu e Cacá, falarmos daquele seu último escrito. Ele, sempre doce e carinhoso, fazia suas crônicas plantadas no São Francisco, na natureza, na sua morada no sítio em sua Glória querida e, mais do que tudo, na cultura brasileira com pitadas internacionais, de um cotidiano que ia desde os tempos de sua juventude até os dias de hoje. Jânio Soares era – era nada, é! – um gênio da escrita, da cultura, da amizade, da raça humana. Um doce de pessoa. Que sensibilidade! Vejo no portal Folha Sertaneja que ele, quando se apresentou para ocupar a cadeira 20 da Academia de Letras de Paulo Afonso, assim iniciou sua biografia: “Filho de Cecília e do Tenente Zé da Silva, sobrinho de D. Alda do Cartório, cresci numa casa sombreada por umbuzeiros e tamarineiros na cidade de Glória, hoje submersa pelas águas do mesmo rio que lambia as minhas costas.” Esse era Jânio Soares. Lembro-me de uma sua recente crônica que me tocou diretamente, pois ele reclamava que os artigos de opinião dos jornais, eram só de opinião mesmo, não tinham mais a sensibilidade da crônica. E de fato, tudo ficou muito árido, os velhos e novos cronistas já não têm muito espaço, pois eles passaram a ser ocupados por nós, uma turma meio cabeção mesmo, que só pensa em analisar racionalmente as coisas em vez de usar mais o sentimento, poetar mais, escrever de maneira mais solta, navegando pelos assuntos ou pelos cannions do São Francisco e da antiga e nova Glória, o que ele fazia com maestria. A cada 15 dias, o nosso sábado era iluminado pelas suas crônicas e isso, hoje, certamente fará muita falta nesse tão árido mundo de conexões velozes e intolerância crescente. Vá, Jânio, navegue por outras águas, mas mande sempre lembranças.
Publicado em A Tarde em 18/12/2021. Veja o pdf da página no jornal clicando aqui.