A Unicamp lançou, semana passada, um portal com vídeos, animações e mais de mil imagens de acesso gratuito. Tudo licenciado em Creative Commons (CC), o que possibilita que o usuário pode usar livremente esses produtos, inclusive remixando-os, ou seja, misturando tudo para produzir mais imagens, animações e vídeos. Objetivo é divulgar a produção da universidade para um público mais amplo, como já vem acontecendo com diversas outras, a exemplo das americanas Harvard e MIT, Politécnica de Madri, Universidade Virtual Africana e tantas outras.
Estamos vivendo um momento ímpar na sociedade com a tomada de consciência de que não é mais possível mantermos a lógica da ampla produção de conhecimento – e estamos produzindo muito hoje! – com uma circulação tão restrita, em função da propriedade privada dos meios de distribuição.
Mais dramático ainda é que, em muitos dos casos, essa produção se dá com exclusivo uso de recursos públicos, sem que o material esteja amplamente à disposição da sociedade. No caso das universidades públicas, a coisa é mais gritante pois nós, os pesquisadores dessas instituições, ganhamos os salários e, na maioria da vezes, bolsas e apoio financeiro para a realização das pesquisas que demandariam a publicação ampla dos seus resultados. No entanto, nossas publicações são aprisionados pelas editoras/produtoras comerciais que obrigam o pagamento para acesso e impedem ampla circulação do conhecimento.
O crescimento do uso de licenças tipo Creative Commons é importante pois com ela o jogo fica aberto: identifica-se claramente quem é o autor do material e diz-se explicitamente o que pode ser feito com ele por quem o assim desejar. O Brasil foi o terceiro país do mundo a utilizar de forma intensa a licença Creative Commons, atrás apenas da Finlândia e do Japão.
A Prefeitura de São Paulo, desde o ano passado, colocou todo o seu site com esse tipo de licença, assim como também a Secretaria de Educação aqui do estado da Bahia. Dessa forma, tudo que estiver nos sites é liberando para uso, seja as produções contratadas, sejam as produções realizadas nas escolas por professores e alunos. No caso da Bahia, ainda está disponível o recém-criado Ambiente Educacional Web, também ele igualmente licenciado em CC, já dispondo de muito material para professores, alunos e o público em geral.
Na Ufba, além do repositório institucional da instituição, a Edufba adotou uma correta política de publicar de maneira aberta toda a sua produção desde 2011. Assim, se o leitor deseja ter o livro – cada dia mais belos e em cuidadosas edições! – ele o comprará, pois passará a ter um bem material físico, que é o livro em si. Já o seu conteúdo é disponibilizado gratuitamente na internet para todos. A Faculdade de Educação tem o projeto RIPE, apoiado inicialmente pela Fapesb, que é uma plataforma de vídeos, toda em software livre, disponibilizando a nossa produção de forma plena, permitindo e estimulando que as pessoas possam se apropriar do material e, remixando-o, construir mais vídeos, naquilo que tenho chamado de um círculo virtuoso de produção de culturas e conhecimentos. Ali é possível encontrar, por exemplo, os depoimentos de grandes educadores baianos, construindo a memoria da educação na Bahia.
Dessa forma, acreditamos que um outro mundo esteja sendo construído, numa perspectiva aberta de circulação de conhecimentos e de culturas, contribuindo de forma efetiva para a construção de uma sociedade cidadã.
Publicado no jornal Correio* em 08/05/2013, pagina 2. [link para o jornal].