Hoje, no Terra Magazine

Parabéns Mr. Darwin

Nelson Pretto
De Nottingham, Inglaterra

Quinta, 12 de fevereiro de 2009, 19h26
Reprodução

Caricatura de Charles Darwin na revista Hornet, em 1871: desvirtuamento das idéias do naturalista britânico

Caricatura de Charles Darwin na revista Hornet, em 1871: desvirtuamento das idéias do naturalista britânico

Há exatos 200 anos, na data de hoje, nascia na cidade de Shrewsbury, no norte da Inglaterra, o naturalista Charles Darwin, que veio a se tornar conhecido em todo o mundo pelo seu delicado trabalho de investigação da origem das espécies.

As comemorações dos 200 anos do seu nascimento estão também associadas aos 150 anos da primeira publicação do livro que marcou a chamada teoria da evolução, e que foi lançado pela primeira vez em Londres, em 1859, pela editora John Murray. O nome do livro é enorme: Sobre a origem das espécies através da seleção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida. Também enorme foi o trabalho e dedicação de Darwin, e aqui destaca-se a famosa viagem que fez a bordo do HMS Beagle, o navio que partiu da Inglaterra e, durante quase cinco anos, rodou o mundo. Nele Darwin observava detalhes mínimos de cada uma das espécies, comparando-as e buscando semelhanças e diferenças entre elas. Essa expedição, que durou de dezembro de 1831 a outubro de 1836, passou pelo Brasil, parando em diversos lugares, como a Bahia e o Rio de Janeiro.

No extraordinário Museu de História Natural de Londres (ah! como temos poucos museus de ciência e tecnologia espalhados por esse Brasil a dentro!), acontece, até dia 19 de abril, uma maravilhosa exposição sobre Darwin, associada a uma série de outras atividades que podem ser acompanhadas pela internet (www.darwin200.org), já que a sua vida e o seu trabalho científico despertam curiosidade em todo o mundo. E isso ganha outra dimensão, principalmente no momento em que a discussão sobre o criacionismo ressurge em vários países, com uma certa força. Na Inglaterra, por exemplo, recente pesquisa realizada pela Ipsos Mori identificou que quase um terço dos professores de ciências da educação básica consideram importante ensinar o criacionismo nas aulas de ciências, junto com teoria da evolução e Big Bang. Os resultados dessa pesquisa obviamente preocupam, pois fica claro a confusão que se estabeleceu durante a formação desses professores, que terminam misturando suas crenças pessoais com ciência. Nos Estados Unidos também se tem noticia de um espantoso crescimento na crença no criacionismo, que resgata Adão e Eva. E tudo isso, seguramente, tem a ver, lá, cá e no Brasil, com a falta de uma formação cultural e científica mais ampla e sólida da população.

Daí porque o trabalho de Darwin é tão importante e essas comemorações contribuem muito para que esses temas voltem à discussão. Evidente está que precisamos, urgentemente, intensificar e melhorar a formação cientifica e naturalística – se é que podemos usar essa palavra – da juventude. Tal formação se dá nas escolas, é claro, onde são fundamentais professores bem preparados. Mas não é só nesse espaço privilegiado de educação – a escola – que se dá a formação científica da juventude. Ela acontece no dia a dia da meninada que, se bem estimulada, sabe criar e deixar fluir os comportamentos mais curiosos e investigativos.

No Brasil, ainda temos muito pouca produção sobre ciência e tecnologia na televisão e no rádio. Não podemos esquecer que esses meios são concessões públicas a serviço da educação e da cultura, de modo que a veiculação de programas de divulgação científica em muito ajudaria a formação dos jovens que, na escola, poderiam aprofundar todos os temas. Tais programas poderiam ser os conhecidos documentários, que explicariam aspectos relevantes (e os polêmicos) da ciência e da tecnologia, associando-os com o mundo da cultura. Mas se poderia lançar mão de outros tipos de programas, ou mesmo vinhetas, onde pudéssemos compreender os fenômenos e o funcionamento do universo. Sobre Darwin mesmo, teríamos muito o que fazer e ver. Claro que lembro logo do muito bom Minuto Científico, que foi ao ar pela TV Cultura algum tempo atrás.

A BBC da Inglaterra, conhecida no mundo todo pela qualidade da sua produção e programação de divulgação científica, veiculou no início deste mês um excelente documentário (Chalres Darwin e a árvore da vida), apresentado pelo também naturalista e bem conhecido divulgador científico David Attenborough. Um belo programa, em horário nobre, que ajuda a compreender o trabalho e, principalmente, as questões que Darwin formulava e que o levaram a pensar na Origem das Espécies. Veiculado uma única vez e numa única noite, o programa depois, fica disponível apenas durante uma semana na internet, somente para acessos oriundos da Inglaterra – e para os que têm banda larga, claro! Lamentavelmente, porque bem que programas como esses poderiam estar disponíveis para acessos de qualquer lugar do mundo, o tempo todo. Certamente seria um excelente material para aulas e para o público em geral. Logo, logo, um garoto faria a tradução e colocaria legendas, e o conhecimento circularia com muito mais facilidade e contribuiria para o aumento do bem comum do planeta.Mais gente conheceria Darwin. Mais gente conheceria suas idéias e suas teorias. Menos gente cogitaria de recorrer a Adão e Eva nas escolas para explicar a origem da humanidade.

Nelson Pretto é professor associado da Faculdade de Educação/UFBA e visitante da Universidade Trent de Nottingham. E-mail: nelson@pretto.info

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Pós Texto
Esse texto deu o maior pau, e recebi alguns emails irados… Vou postá-los aqui assim que tiver um tempinho…

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