Nossos projejtos Tabuleiros Digitais não param de dar polemicas dentro da Faculdade de Educação da UFBA.
Abaixo, minha resposta a uma msg de um colega professor (resposta abaixo da minha) sobre o uso dos mesmos…
A discussão é boa, muito boa..
nelson pretto
Ola Faced,
bom dia/boa tarde/boa noite
sabem os que me conhecem um pouco que não sou dado a polemicas pela lista nem a longos emails…
No entanto, não resisto e vou comentar a msg do prof. José Albertino sobre os nosso Tabuleiros Digitais.
Primeiro, permitam-me uma questão que balizará toda essa conversa: por que os filhos das classes média e alta podem ter acesso ao universo da internet, na privacidade de seus quartos, com banda larga, suporte via telefone e computadores poderosos para fazer um monte de coisas como baixar músicas, mixá-las, distribuí-las, jogar videogames online, conversar com amigos velhos e novos, visitar e interagir com sites às vezes não tão adequados segundo os adultos – que aliás, um dia já viram as mesmas coisas em gibis escondidos dentro dos livros escolares! -, e, os filhos dos pobres, têm que acessar internet em telecentros para serem treinados (com projetos pedagógicos) em word e excel (aliás, softwares proprietários que lhes "escravizarão" para o todo e sempre…)?!
Caras e caros da Faced, essa foi a nossa motivação para o projeto dos TD (fruto de nossas pesquisas, atividades de ensino e de extensão) e, justo por isso, o projeto ganhou prêmios e foi, inclusive, o indicado pela FAPESB mês passado, para concorrer ao Prêmio Péter Murányi 2009. Mas isso não é o fundamental pois seria tratar o tema a partir da lógica meritocrática, que tanto condeno. (mas, claro, não custa lembrar para os desavisados, não é?!)
O fundamental é que, aqui, dentro da comunidade de educadores, os TD incomodam. Incomodam e muito. E, creiam, isso nos deixa eufóricos. Quem sabe se, com esse incomodo, nossos futuros professores possam ver o mundo com outros olhos. Abertos, de preferência! Quem sabe, se com essa turbulência que eles causam, não possamos pensar em escolas, currículos, prédios escolares (vou escrever mais sobre isso em breve!) e professores mais atentados com a contemporaneidade. Ou ainda, será que ainda pensamos que é na normalidade que se cria e se produz conhecimentos e inovação? Ledo engano, minhas caras e meus caros…Ledo engano.
Não resisto lembrar de uma aula de Polemicas Contemporâneas (que também já deu muita polemica!) sobre homossexualidade, na qual umas três alunas foram embora indignadas com a discussão e…chamaram os maridos!!!
Prof. José Albertino, permita-me dirigir-me em público diretamente ao colega com uma questão: por que sua indignação com o ato do menino não teve como pronta resposta o necessário ato de um professor que seria o de educar: chegar mais, ir lá, dialogar, conversar, mostrar o absurdo que é um garoto ficar vendo páginas pornográficas em um lugar público e, pior, em uma unidade de educação? Qual nada, sua ação foi a de chamar a Diretora. A autoridade. Avisar ao Reitor, a autoridade! Para que? Para que ordem voltasse a reinar?
Todos nos temos que reprovar e não permitir que esses meninos façam isso aqui, mas, claro, temos também que nos perguntar: que formação sobre sexualidade estamos dando à essa juventude? Que formação ética estamos dando? Esse pai que até aqui veio (deve ter sentado um minutinho no Tabuleiro, não? duvido!) devia compreender exatamente o porque do menino estar aqui e não lá na escola… Esse pai deveria ir até a escola, cobrar da escola sem, no entanto, ser responsabilizado pela falência da escola e da educação. Não, não… as famílias não são as responsáveis por isso, professor. Elas precisam cobrar sim é Politicas Públicas, isso sim! Mas essa é outra conversa, deixa para lá…
O que fico aqui a pensar é por que essa indignação e acesso à Reitoria não foi no sentido de perguntar à administração central por que, até hoje, os Tabuleiros não estão espalhados em toda a UFBA, com o apoio da Petrobras, tão caro ao nosso projeto e mais caro ainda à administração central? Por que? (Mudem o nome, para não dizer que foi idéia da Faced, não tem problema!) Essa pergunta me faço o tempo todo pois, saibam todos, fizemos de tudo para que pudéssemos ter mais Tabuleiros, mais acesso, mais produção de conhecimentos, culturas e, por que não professor, muito, muito mais diversão e alegria?!
Uma nota de pé de página: depois dos primeiros apoios (para cá e Irecê), todas as vezes que enviamos à Petrobras pedidos para ampliação do projeto na UFBA, tivemos os projetos negados!. Fecha nota de pé de página.
A Faced tem responsabilidade com esse projeto. Estamos vendo no mundo todo uma luta desenfreada por ampliação das liberdades, e o acesso a essas tecnologias não e algo secundário. Foram esses meninos e meninas – às vezes fazem esses absurdos (oohhh!!!!) – que, direto da Índia, na semana passada, através do twitter (http://twitter.com e no blog do GEC http://educacoes.livejournal.com/40375.html) postaram informações, fotos e, inclusive, alimentaram a grande imprensa, que dava noticias não verdadeiras sobre a tragédia (acabo de ver que o mesmo esta acontecendo com as enchentes no sul ai do Brasil). Foram esses meninos e meninas, que não estavam só sendo treinados para usar word e excel com projetos pedagógicos, que organizaram a "revolta do buzu" ai em Salvador, a "revolta catraca" em SC, movimentos como MST e Chiapas no México… São esses meninos e meninas que, depois de crescidos – ou muito antes do que isso! – estarão ajudando a construir um mundo justo e solidário. Isso é o que esperamos e, para isso trabalhamos. Trabalhamos duro, professor… Não é mole, não… compreender a vibração dessa meninada que, por natureza, adora (e tem!) transgredir para que possam, quem sabe um dia, serem adultos que consigam perceber que uma juventude que não transgride, para começo de conversa, não é juventude…
A escola, colegas, desculpem o tom professoral (xiii, to me traindo, hein?!)
, tem que aprender a tratar com essa juventude como ela é e não uma idealizada que se comporta como… como… …
Perdoem-me… já falei demais e esse não é o meu estilo (devo ser o frio e as saudades da Faced!).
Por ultimo, e não menos importante penso eu, uma pequena historia.
Caminhava na Centenário um fim de semana desses de setembro, quando encontrei uma turma de meninos do Calabar. Ao passar por eles, de pronto, um me pediu: tio (argh!!!!) dá um trocado aí… Eu, como de costume, respondi na lata: que nada cara.., colé ?! E continuei o meu caminho. O garoto olhou pra mim e, com um sorriso de orelha a orelha, fez um tchau, professor! segunda to la na Ufba! Era um dos meus "amigos" do Tabuleiro….
Que bom seria, Zé, se naquela segunda, vc estivesse no corredor e, de braços abertos, recebesse esse menino, desse um sonoro bom dia, explicasse alguma coisa, e, quando necessário, passasse um belo "esporro" (no bom sentido, claro!), sem autoritarismo Iluminista mas, duro, consistente, com a autoridade de um adulto, de um pai e, principalmente, de um professor.
Esse seria um dia muito feliz para mim. Pena que esse dia ainda está distante. Ou, quem sabe não?!
Continuaremos o nosso incansável trabalho político e acadêmico para contribuir com a construção de um mundo justo, solidário e feliz, podes crer meu caro!
um abraço fraterno.
Nelson Pretto
FACED/UFBA
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À Congregação da Faced
À Reitoria da UFBAPrezados senhores
Venho criticando há três anos os rumos tomado pelo Projeto Tabuleiro
Digital, da Faculdade de Educação sem que a direção tome as
providências necessárias para respeitar o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Mais uma vez flagrei crianças e adolescentes assistindo
filmes de sexo explícito, cenas que se repetem diariamente, na Faced,
podendo ser vistos por qualquer pessoa que passe pelo local. Estes
mesmos jovens usam alguns banheiros da Faced como salas privê. Nesta
segunda-feira, dia 1 de dezembro, chamei a diretora e mostrei um
destes jovens assistindo livremente os filmes. Não é de hoje que isso
acontece e dezenas de estudantes de pedagogia relatam os mesmos fatos
e apontam a omissão e a negligência da Faced.Considero ainda grave o fato de que muitas crianças e adolescentes
faltem as aulas nas suas escolas, para jogar; alguns desses jogos,
segundo me informaram, incitam a violência; outros jovens passam horas
em comunidades virtuais ou em salas de bate-papo, destituindo o
projeto de uma dimensão pedagógica ou inclusiva como tantos outros
projetos dessa natureza coordenados por ONGs e instituições públicas.Além desse tipo de problemas, já testemunhei a presença de um pai que
seguiu o filho até a Faced para saber onde ele ia, ao invés de
freqüentar as aulas na sua escola. Como é do conhecimento da
comunidade da Faced, tenho um projeto de prevenção e combate a evasão
escolar, em escolas públicas e julgo um paradoxo, orientar crianças,
adolescentes e seus pais a freqüentarem a escola, e desconhecer ou
aceitar passivamente esse problema dentro da Faculdade de Educação da
Universidade Federal da Bahia.Para não pecar também pela omissão ou negligência, estou formalizando
esta denúncia para a qual solicito providências das instâncias cabíveis.Cordialmente
Prof.
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