A questão ambiental no Brasil sempre foi motivo de preocupação. Em 2018, na campanha eleitoral que levou Bolsonaro à Presidência da República, o tema foi recorrente e, eleito, o mesmo afirmou peremptoriamente que as licenças ambientais atrapalham os gestores na realização de obras. Anunciou, junto com o seu Ministro do Meio Ambiente, a necessidade de flexibilizar as licenças ambientais. Em Davos, afirmou que “somos o país que mais preserva o meio ambiente” e que “nossa missão agora é avançar na compatibilização entre preservação do meio ambiente e desenvolvimento econômico”.
Três dias depois, a barragem da Vale no Córrego do Feijão (Brumadinho) estourou. Destruição total, com muitos mortos e desparecidos.
Há três anos, em Mariana, em uma outra barragem da Vale (acionista da Samarco), outro rompimento similar, com 19 mortes, destruição de Bento Rodrigues e verdadeiro rastro de destruição.
Circula nas redes sociais uma campanha muito correta que propõe não denominarmos esses acontecimentos de desastres e, sim, usarmos a correta denominação de crimes.
A população precisa ter clareza de que o acontecido em Brumadinho foi um crime ambiental provocado pela empresa Vale. Sem subterfúgios.
Com isso, entramos na importante luta de construção das narrativas que nos permitem ter mais clareza sobre o que está acontecendo e, assim, termos elementos para o nosso posicionamento político.
A universidade tem importante papel nesses momentos, de uma lado, porque tem na pesquisa e formação de suas principais tarefas. De outro, comunicando-se com a sociedade, ajuda a construir no imaginário das pessoas algo mais concreto e mais adequado ao momento, não naturalizando os processos.
Nessa direção, louvável a iniciativa da UFMG ao promover, de pronto, reunião com os grupos que atuam no “Participa UFMG Mariana Rio Doce”, programa criado após aquele crime de 2015, para atuar junto à população de Brumadinho com ações para enfrentar os desafios atuais.
O grupo reunido sob a liderança da UFMG, com a presença PUC Minas, Fiocruz e UFJF e SBPC, aproveitando a experiência do passado recente e centrado na “ética e nas articulação de saberes”, formulou propostas de ação que incluem a criação de disciplinas sobre o tema articulando os currículos dos diversos cursos, a realização de seminários sobre mineração, barragens, direitos humanos, etc e o lançamento de um edital para financiar pesquisas e iniciativas em relação ao tema.
Assume assim, a universidade pública, o seu papel primordial de estar atenta ao passado, atuante no presente em busca de construir um futuro onde crimes humanitários e ambientais como esses não mais sejam possíveis.
Acima de tudo, estamos defendendo um Estado forte que possa coibir a lógica do lucro acima de tudo.
A Tarde, de 31/01/2019 pag. 03.