Se eu tivesse conhecido antes a Escola Parque e a obra de Anísio Teixeira, teria feito educação.

Alessandra Mariano – 8° semestre de Arquitetura/UFBA

No último dia 12, Anisio Teixeira, um filho de Caitité – Bahia, estaria fazendo 96 anos. A Escola Parque, por ele idealizada e construída com a ajuda de Diogenes Rebouças, preparou-se para comemorar a sua festa.

Não poderia ser diferente. Era como se ele estivesse lá. Vivo. Presente. Repetindo entre professores, alunos e funcionários seus discursos meio estranhos: “… tudo isso soa como algo de estapafúrdio e de visionário. Na realidade, estapafúrdios e visionários são os que julgam que se pode formar uma nação pelo modo que estamos destruindo a nossa”, disse ele naquele lugar, em 1950, inaugurando a primeira parte do Complexo Carneiro Ribeiro, frente ao então Governador Octávio Mangabeira.

Por um defeito inexplicável de minha formação, eu nunca tinha ido à Escola Parque. Vejo pela primeira vez os 42 mil m² de área verde com teatro, biblioteca, oficinas, padaria, salão de beleza, campos de esportes, hortas, banheiros, setor de serviços … U ma área monumental. Um projeto arrojado e provocante, incrustado numa região pobre da cidade.

Aberto por concepção arquitetônica e sólido na busca de “peparar os filhos para o nosso tempo.” Originalmente previsto para 4.000 alunos, o Centro abriga atualmente cerca de 8.000 crianças que nem se abalam quando recebem um grupo de alunos e professores da UFBA. A vida alí continua normal, mesmo com a presença destes estranhos, porque fundamentalmente, alí existe vida. Não se faz de conta que se está vivendo e, muito menos, de que se está estudando e aprendendo. Cada grupo desenvolve os seus trabalhos, o seu lazer. E nós, estupefatos, visitamos este complexo cheio de vida.

Recuperando o meu tempo perdido, caminhando por aquelas árvores, prédios, professores, jovens e adolescentes, fico pensando em nosso grupo de pesquisa na Faculdade de Educação da UFBA. Lembro que procuramos desesperadamente colegas da Faculdade de Arquite tura que queiram investigar conosco um pouco mais a relação da arquitetura com a educação, pensando com a gente como deverá ser o espaço escolar no novo milênio. Um milênio cuja carcaterística básica é a presença generalizada das imagens e das informações . São as redes telemáticas, computadores, Internet, vídeos, TVs interativas chegando nas escolas e trasnformando-as profundamente… Pensamos muito. Imaginamos as mudanças necessárias nos espaços físico das escolas. O papel dos professores … Olhamos par a a frente, como sempre nos induz estas novas tecnologias. E, num simples dia de julho de 96, visitando pela primeira vez a Escola Parque de Anisio Teixeira, começo a perceber que, de fato, eu estava vivendo, ali, a tal escola do futuro que tanto idealiza mos. Feita as devidas atualizações temporais, pude tranquilamente concluir que a escola do novo milênio foi criada em 1950, por Anisio Teixeira, e está na Caixa d’Água, em Salvador, Bahia!

Revendo a frase que abre este artigo, dita pela futura arquiteta quando terminou sua pesquisa na Escola Parque, só me restou pensar em voz alta: “se eu conhecesse antes a Escola Parque… teria feito também Arquitetura…”

publicado em A TARDE de 19.07.96, p. 6