Estamos em 1994. Felippe Serpa, reitor da UFBA, me chama para sua assessoria para ajudar o antigo Centro de Processamento de Dados (CPD) na implantação de um negócio ainda pouco conhecido chamado Internet, assim, com um I maiúsculo imponente.
Logo de início, com a brava equipe do CPD, teríamos uma reunião com um japonês invocado, piadista, cheio de ideias. Era o tal Tadao Takahashi, que coordenava com mão de ferro a implantação da rede no país. Percebi de imediato que o cara era especial e, a partir dai, convivemos, mesmo a distância, até recentemente.
Ele nos deixou no último dia 6/4/22 e isso dá enorme tristeza. Figura inquieta e fundamental para a implantação da internet no país. Falava e articulava com todo mundo e fazia isso com maestria. É graças a essa sua habilidade, não tenho a menor dúvida, que a internet no país se constituiu efetivamente em uma Política de Estado.
Ele articulou as universidades públicas para a instalação dos chamados PoPs (pontos de presença da Internet), que passaram a atuar em conjunto com o Ministério da Ciência e Tecnologia, sob a sua batuta, na formação de pessoal, apoio financeiro e infraestrutura.
Montou-se, assim, o backbone da internet brasileira. Para viabilizar essa arquitetura, lá vinha o japonezinho engraçado fazer essa enorme articulação que colocava no mesmo barco governo do estado, prefeituras, empresários, telefônicas e universidades.
Uma verdadeira mágica com a varinha de Tadao. Ele e a internet no Brasil se confundem e, por isso, é urgente recuperar essa memória e dedicá-la a esse homem que rodou o país montando uma rede até bem pouco tempo inimaginável.
Tadao não parava.
Depois, montou o Programa Sociedade da Informação, no qual tive a honra de estar, com Leonardo Lazarte (UnB), coordenando o GT Educação.
Foi em seguida para o Conselho da Fundação Roquete Pinto e, mais adiante, nem sei mesmo de onde falava, aqui estava ele para me provocar em função de um tal programa CHIS, Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis.
Tive o privilégio de estar por perto e, nesse processo, muito debater com ele. Era um homem duro de queda, mas, ao mesmo tempo, um ser humano especial. Ele pensava em macropolíticas a partir de ações pequenas que viravam grandiosas.
Minha tristeza aumenta, pois muito insisti junto à RNP e ao CGI (Comitê Gestor da Internet), para que fossem produzidos “documentários distribuídos” (plural, sim!), para contar essa história que tinha em Tadao a irradiação vital.
Uma pena que até agora nada foi feito e perdemos a oportunidade de ter o seu belo registro, com seu olhinho apertado, mas que via para muito além.
Aqui na Bahia, resgatamos um pouco dessa história com o projeto memoriainternetbahia.ufba.br. Nele, merece destaque a sua fala.
O pai/mãe da internet no Brasil, publicado em A Tarde, 08/04/22, pagina 03, por Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA. Pesquisador vistante da Universidade de Barcelona. nelson@pretto.pro.br