Dezembro de 2018, 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Importante documento proclamado pela ONU em 1948, logo depois dos horrores da 2ª guerra.
A atualidade do tema é grande, pois, ao longo de 2018, a campanha eleitoral que levou Jair Bolsonaro à presidência do país foi centrada em frequentes ataques aos Direitos Humanos, trazendo à tona a frase: “direitos humanos são para proteger os bandidos”. Não, definitivamente não. Eles existem para defender os cidadãos, homens e mulheres que são atacados cotidianamente por um sistema social injusto que descrimina negros, índios, pobres, homossexuais, entre tantas outras minorias, às vezes bastante numerosas.
Quando da diplomação do novo presidente, a Ministra Rosa Weber (STE) em seu discuso tratou do tema de forma contundente. Foi logo critica pelos apoiadores de Bolsonaro argumentando que ela fazia proselitismo e discurso militante. Pode ser, mas uma militância mais do que necessária e que precisa ser praticada por todos.
Rosa Weber: “Em um pais com tantas desigualdades como o nosso, a democracia é exercício constante de diálogo e de tolerância, de respeito à diferença.”
Como educador, tenho insistido nisso, pois acredito que a educação precisa ter como principal desafio e responsabilidade tratar da diversidade. E o professor precisa ser um verdadeiro negociador das diferenças, para que possa trabalhar com o que cada aluno traz para o cotidiano da escola, com competência, carinho e acolhimento.
Em nossas Polêmicas Contemporâneas (FACED/UFBA) exercitamos isso diariamente. Ao iniciar o curso, o que faremos novamente em fevereiro próximo, explicito a dinâmica inclusiva da atividade, detalhando como definiremos os temas dos debates do semestre. Nas primeiras aulas realizamos uma verdadeira tempestade de ideias para que surjam os tais assuntos. Como temos 200, 250 alunos presentes, grande polêmica instala-se, surgindo cerca de 30, 40 temas. Como o semestre só comporta uns 12 ou 13, chegamos a um impasse: quais escolher? Depois de longo debate, os alunos, jovens e mais impacientes, propõem logo a votação.
De imediato rechaço a proposta e explico: em votação, só serão escolhidos os temas da maioria. E as minorias, pergunto? Dessa forma, continuamos a debater até chegarmos a um consenso, onde estarão presentes os temas da maioria e, também, das minorias, possibilitando assim o respeito a todos.
São simples atitudes e gestos que nos permitem ir construindo uma perspectiva ampla de Direitos Humanos. Dessa forma podemos pensar em um sistema educacional que prepare as juventudes para que sejam capazes de viver plenamente o presente e construir o futuro. E isso não se faz apenas com aulas de português e matemática.
Artigo de Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA, publicado em A Tarde de 17/12/2018,pag. 03
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