No próximo domingo celebraremos o dia professor. Profissão sofrida, desvalorizada e de enorme responsabilidade. Mas profissão que reúne, apesar de tudo, gente animada.
Antes de iniciar este artigo, revejo outros escritos meus de outubros passados. Desde o início de minha carreira tento dizer alguma coisa sobre o nosso ofício, no mês que o celebra. Na terça passada, Anderson Rios e Walesca Apolônio, aqui em A Tarde, apontaram com precisão as principais questões que também já foram objeto de meus textos e lutas: as condições de trabalho e salário, as dificuldades na formação inicial e continuada, a violência nas escolas e outras mais. Parece que tudo já foi dito. E o pior é que temos a sensação de que nada, ou quase nada, mudou ao longo dos anos.
A celebração do dia do professor precisa se dar com o objetivo de fortalecer a luta em defesa da formação ampla das juventudes, centrada em princípios democráticos que respeitem e valorizem as diferenças, e que avancem na construção de uma sociedade não intolerante e justa. Nosso lugar é privilegiado, pois estamos em contato diário com os jovens que, de fato, serão os responsáveis pela construção do futuro. Temos, assim, a obrigação de a eles tudo apresentar de forma muito direta, clara e, mais ainda, provocativa.
O Brasil de hoje deveria ser tema quase único no cotidiano das escolas/universidades. Vivemos tempos de exceção, com absurdos sendo cometidos diuturnamente em todas as esferas (executivo, legislativo, judiciário e iniciativa privada). Habitamos um país no qual meia dúzia de bilionários concentram a mesma riqueza da metade mais pobre da população. Ou seja, numa matemática de arrepiar, seis é igual a 100 milhões.
Essa absurda desigualdade, somada ao fato de termos um governo absolutamente impopular que destrói nossas mais recentes conquistas, vai nos deixando perplexos e quase sem ação.
As escolas não emocionam os jovens, porque excessivamente centrada em conteúdos e mais conteúdos, sem conseguir dar conta dos desafios subjetivos de suas existências.
Como professor desde 1974, nunca dissociei a qualificação acadêmica da luta política. Não posso, pois, deixar de insistir que valorizar o professor é questão de princípio. Assim, celebrar o dia do professor é também resgatar nossa história.
Nosso projeto Memória da Educação, produziu programetes que, ao longo do mês, estão sendo veiculados pela Educadora e TVE, numa importante parceria de uma universidade pública com a rádio e TV pública da Bahia. Procuramos, assim, fortalecer uma narrativa de valorização da figura do professor, enquanto ser humano com suas subjetividades e desejos.
As falas, entre outras, de Vanda Machado, Amabília Almeida, Makota Valdina e Iracy Picanço, mulheres, professoras e poderosas ativistas, fortalecem o nosso grito em defesa da educação pública e da democracia em nosso país.
Publicado em A Tarde, 13.10.2017