Artigo: Memória da Bahia

 Memória da Bahia.

A passagem de um ano para outro é sempre oportunidade para acionar a memória, lembrar de cenas familiares e momentos significativos de nossas vidas. A memória pessoal, familiar, é um elemento fundamental na construção da história das civilizações. Essa história não é escrita apenas por meio dessas ações individuais, que dependem do cuidado que devemos ter com o nosso passado. São necessárias políticas públicas bem consolidadas para a garantia de que nossos arquivos e nossas memórias mais coletivas possam ser preservadas.

Saber do registro do quarto conjunto documental do Arquivo Público do Estado da Bahia no Programa Memória do Mundo da Unesco é, sem dúvida, uma noticia alvissareira. Mas ainda é muito pouco para uma terra com tão rica história. Precisamos de muito mais, pois sabemos das atuais condições do nosso Arquivo Público. Na esfera privada, o Mosteiro de São Bento, que tem uma rica e impressionante biblioteca, fez um belo trabalho para a preservação de seu acervo, disponibilizando, em acesso aberto, uma coleção de cinco Livros do Tombo que documentam importantes fatos da história da Bahia e do Brasil desde o século XVI (http://bit.ly/2hC3V82). Mas essas boas noticias são sempre acompanhadas de outras não tão boas.

Nosso projeto Memória da Educação na Bahia produz vídeos-depoimentos com pessoas que marcaram a educação em nosso Estado, e todo o material fica disponível na internet para ser usado livremente (http://bit.ly/MemoEd). Como consideramos importante para a educação resgatar a história do IRDEB (Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia), começamos a localizar educadores para, com eles, realizar gravações. Precisávamos, desse modo, de imagens e entrevistas da professora Aristocléa Macedo, fundadora do IRDEB, na década de 1970. Nada foi encontrado nas mais de 7.500 horas fitas do acervo da TVEBahia. Ficamos sabendo que esse rico arquivo é composto de fitas que, em alguns casos, já não são mais lidas pelos equipamentos disponíveis no mercado. Urgente se faz, portanto, que recursos sejam destinados para a imediata digitalização desse pedaço de nossa história. Fui informado que, entre tantas outras preciosidades ali guardadas e com risco de serem definitivamente perdidas, estão as imagens da posse de todos os governadores da Bahia, desde a criação da TVE, nos anos 70 do século passado.

O IRDEB é hoje integrante da Secretaria de Educação, de modo que nada mais pertinente para essa pasta do que cuidar da sua própria memoria. O secretário Walter Pinheiro e o governador Rui Costa deixariam uma significativa marca em suas gestões se, de forma imediata, providenciassem que todo esse material fosse digitalizado e colocado na internet disponível para todos. Cuidar da memória é uma das nobres tarefas de um país que almeja ser uma Nação.

Artigo de Nelson Pretto – professor da Faculdade de Educação da UFBA. nelson@pretto.pro.br, publicado em A Tarde em 09.01.2017, página 02.

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