20 anos não são 2 anos!
Nelson Pretto – professor da Faculdade de Educação da UFBA. nelson@pretto.pro.br
Tenho uma história de mais de 40 anos dedicado à educação com grande ativismo político, sem nunca, no entanto, ter feito política partidária. Saliento que considero a militância partidária de fundamental importância, mas terminei me dedicando integralmente ao partido da educação, da cultura, da ciência e tecnologia.
Ao longo de todos esses anos nunca vi barbaridade maior do que a proposta da tal PEC 241, denominada pelo governo de PEC dos Gastos Públicos, mas que, para nós, é a PEC do Fim do Mundo. E o dramático da situação é que, após o celebrado jantar para mais de 200 deputados federais (eram esperados uns 400) no Palácio da Alvarada, ela foi aprovada em 1º turno por 366 votos favoráveis contra 11 contrários.
Nossa luta tem sido diária contra esse absurdo. Várias associações científicas e sindicatos têm se manifestado contrárias a essa emenda constitucional. Como conselheiro da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) destaco aqui um trecho da carta enviada em 10 de outubro pp. a todos os deputados federais, onde dizemos claramente que “reduzir os investimentos públicos em educação, ciência, tecnologia e inovação vai na contramão dos objetivos de se efetivamente tirar o Brasil da crise. A experiência mundial nos mostra que, sem investimentos consistentes e permanentes em educação, ciência, tecnologia e inovação, não há desenvolvimento econômico.”
É incrível como a imprensa tem entrado nessa onda e não consegue perceber o risco e o absurdo de um governo que, tendo entrado pela porta dos fundos para completar um mandato, se proponha a tomar decisões que afetarão os próximos 20 anos. Sim, 20 anos! Não estamos falando de um ou dois anos, serão 20 anos de investimentos praticamente congelados em áreas absolutamente fundamentais.
Claro que perto da PEC 241, as demais questões terminam sendo até menores, mas ao mesmo tempo não deixam de nos preocupar. Uma delas, com certeza, é a absurda proposta de reforma do Ensino Médio que, além de tudo, é feita via Medida Provisória. Precisamos formar amplamente nossos jovens para que sejam cidadãos críticos e não meramente prepará-los para os exames nacionais ou internacionais (ENEM, PISA, Prova Brasil….) ou para a ocupação de carreiras técnicas que, inclusive, certamente serão de baixa qualificação, justo por conta dos cortes nos investimentos futuros. Não há dúvida de que toda a educação brasileira precisa de grandes transformações, e por isso mesmo, de mais e não menos investimentos. Essa tem sido minha labuta e minha luta cotidiana!
A situação é dramática e eu não poderia ficar calado frente aos absurdos que estou vendo, sob pena de estar traindo uma quantidade enorme de alunos que comigo estiveram ao longo desse tempo.
Justo nesses dias, que comemoramos o dia do professor, como militante da educação, se calado ficar, me considerarei um traidor de tudo que venho defendendo em sala de aula (oppss, tem a Escola sem Partido!, será que poderei me manifestar?!) ao longo de todos esses anos de profissão.
A luta não será pequena, mas quem milita na educação sabe que essa luta, nunca foi pequena.