Artigo meu na Muito! de hoje, 20.12.2015.
Eppur si muove
Estou aqui, nesse final de 2015, querendo que ele acabe o mais rapidinho possível. Fizemos longa greve na UFBA, nossa cidade virou cimento puro, as consultas públicas propostas não parecem interessar aos governantes (até parece que diálogo passou a ser sinônimo de paciência de ouvir, cruz credo!).
Na eleição passada, descuidamos do voto e ganhamos de presente (que presente!) este Congresso conservador e intolerante que nos ameaça, a cada instante. Querem que a política não esteja na escola, sem entender que sem política não se faz educação. Querem pôr religião dentro da escola, e não entendem que a educação tem que ser laica. Querem bisbilhotar a nossa vida na rede e matar a liberdade de expressão na internet. Querem acabar com todos os avanços que conquistamos a duras penas nos últimos anos, mas… ah! isso não vamos deixar!
A crise virou desculpa para tudo: subir os preços de qualquer coisa, demitir, não pagar, acabar o apoio de empresas a projetos bacanas como o das escolas Oi Kabum e o Cinema de Arte… xô 2015!
Mas, verdade seja dita, tivemos também muita coisa boa. Fiquei emocionado com a exposição Co-mover, justo da Oi Kabum que querem acabar. A Barroquinha está bombando, e espero que pegue fogo ainda mais nesse verão, que promete ser escaldante. Mãe Stella vai ter um app (ah, sempre jovem aos 92 anos, trabalhando por um mundo melhor). Ela quer que a meninada possa entender que o Candomblé também está nas redes e, junto com a turma do Raul Hacker Club, desenvolve um aplicativo que vai nos ajudar a entender em Yourubá os provérbios milenares dessa tão importante cultura.
Os meninos e meninas, em São Paulo, ocuparam as escolas, deram um show de cidadania e, de fato, fizeram educação. Em Mariana, palco de barbaridades e atrocidades sociais e ambientais, a turma do #BentoFala organiza todo o dia 5, um minuto de sirene, cobrando responsabilidade daqueles que espalharam lama em nossas vidas.
Temos energia para desfazer a urucubaca instalada em 2015. Pois que venha 2016. Vamos fazer os seus dias, com muito ativismo, luta política, garra e alegria. Afinal, sem alegria e festa, a gente não se move. Eppur si muove.
Nelson Pretto, professor (e ativista) da Faculdade de Educação da UFBA. nelson@pretto.pro.br. Publicado na Muito! de 20.12.2015, pag. 21.