As greves na educação tomaram as manchetes dos jornais ao longo das últimas semanas. O absurdo da violência do governo do Paraná contra os professores que lutam por condições de trabalho dignas ganhou espaço na mídia e nas redes sociais. Recentemente, estive no Fórum de Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar, cujo tema central era Políticas Públicas na Interface Saúde e Educação. Um dos objetivos do Fórum era o de buscar uma maior segurança jurídica para as atividades das professoras que atuam nesse tão importante segmento. A cartamanifesto final incluía a entrega de uma proposta de Projeto de Lei à Câmara de Vereadores de Salvador e Assembleia Legislativa do Estado da Bahia visando a regulamentação dessas atividades. Sempre, sempre em questão, as condições de trabalho dos professores. Relembrei, na ocasião, do Manifesto dos Pioneiros da Educação, de 1932. Recentemente, o jornal O Globo resgatou esse documento como parte da série de matérias comemorativas do seus 90 anos. O referido Manifesto, assinado, entre outros, por Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquete Pinto e Cecilia Meireles, foi matéria na edição de 28/3/1932. Rever o seu texto (no original) nos dias de hoje nos possibilita ver o pouco que andamos na solução dos grandes problemas nacionais nesse campo. “Na hierarchia dos problemas nacionaes, nenhum sobreleva em importancia e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caracter economico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrucção nacional”. Mais adiante: “Se depois de 43 annos de regimen republicano, se der um balanço ao estado actual da educação pública no Brasil, se verificará que (…) não lograram ainda crear um systema de organisação escolar a altura das necessidades modernas e das necessidades do paiz”. Os professores, dizia o Manifesto, “precisam de formação e remuneração equivalentes que lhe permitam manter, com eficiência no trabalho, a dignidade e o prestígio indispensáveis aos educadores”. O tempo passou. As questões parecem ser quase as mesmas. Além da situação salarial e de formação, enfrentamos, hoje, um novo e grave problema: a insegurança dos professores nas escolas. Em uma pesquisa global realizada em 2014, coordenada pela OCDE, que envolveu mais de cem mil professores e diretores do ensino básico, encontramos dados assustadores sobre as agressões sofridas pelos mestres. Segundo a pesquisa, 12,5% dos professores brasileiros disseram já terem sido agredidos verbalmente ou intimidados por alunos pelo menos uma vez por semana. Entre os 34 países pesquisados, esse foi um dos índices mais alto. A média mundial é de 3,4%. De fato, com essa realidade, fica muito difícil o trabalho desses profissionais que precisam, antes de tudo, altivez profissional. Somos responsáveis pela formação dos jovens que amanhã serão o futuro do país e não é possível que ainda continuemos a ser tão pouco valorizados pela sociedade.
Artigo no Correio*: Professores em Pauta
Professores em Pauta, artigo de Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA e secretário regional da SBPC Bahia. nelson@pretto.pro.br
Publicado no Correio*, 4.6.2015.
Link para original: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/nelson-pretto-professores-em-pauta/?cHash=89c9b00e37da3121e54df8d05d50ed11