Rio Branco, capital do Acre, recebe a 66ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Rodar o Brasil, este é um dos pontos altos das reuniões anuais que não se acomodaram aos grandes centros, nas regiões mais desenvolvidas e com melhor infra-estrutura. As três últimas aconteceram em Goias, Maranhão e Pernambuco. A próxima será em São Carlos, capitaneada pela UFSCar. Fazer ciência e divulgação científica em um país como o Brasil, demanda investimentos e, nesse aspecto, economizar pode custar caro para o país.
A formação científica da juventude brasileira passa, entre outras coisas, por uma intensa participação em eventos científicos. Mesmo que a lógica produtivista que impera na ciência mundial tenha levado aos órgãos de avaliação da pós-graduação não valorizarem a participação em congressos, é de fundamental importância incentivarmos os jovens pesquisadores a participarem destes eventos. São neles que podemos conhecer aqueles que realizam as principais pesquisas nas diversas áreas do conhecimento e, como dizem os próprios estudantes quando estão nos congressos, “é bom encontrar nossas referências ao vivo.” É isso mesmo, os autores dos livros usados na formação da juventude, resultados das pesquisa desenvolvidas nas universidades e centros de investigação, são pessoas que vivem e circulam por todos os cantos. Desmistificá-los, portanto, é uma importante ação que acontece justamente nos Congressos, como a SBPC. E, com isso, possibilitar a criação e novas e importantes redes.
Aqui no Acre, já está em debate, sob o lema “Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras” os principais temas da ciência brasileira, recheado, como não pode deixar de ser, pelo amplo debate sobre as políticas públicas para a área. Políticas essas que sofrem cotidianamente com projetos e programas que são descontinuados em nome de outros novidadeiros que são periodicamente lançados.
A bola da vez neste campo são as chamadas “Plataformas do Conhecimento” (PNPC), lançado em junho passado pelo governo Federal. O objetivo das tais plataformas é apoiar grupos de excelência em 23 áreas (consideradas “chaves”!) e sua relação com a indústria. Justo aí mora o perigo deste Programa que, para começar, não anunciou explicitamente de onde virão os recursos para sua realização. Se for recurso novo para C,T&I, seguramente será bem vindo. Mas o receio que se tem, como já foi visto no passado com outros Fundos e Programas, é simplesmente retirar-se recurso de um lugar para por em outro e, no caso, transferindo o dinheiro público para a iniciativa privada.
A SBPC manifestou-se de forma dura em relação ao PNPC (veja aqui), reafirmando que o novo programa deve ser recebido com cautela e “ser mais bem discutido para entender quais são as fontes de seu financiamento, o papel dos diferentes ministérios e as próprias plataformas escolhidas”. O vice presidente da SBPC, Ennio Candotti, também foi enfático na reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) onde o decreto foi apresentado: “dar continuidade aos projetos financiados com os fundos setoriais, dos Pronex, dos INCTs e descontingenciar os recursos do FNDCT, antes de iniciar uma nova jornada. Por melhores que sejam as intenções do programa das Plataformas, poderemos reencontrar os obstáculos que encontramos na implementação dos outros programas, cuja avaliação ainda não foi completada”.
O que vemos, mais uma vez, é que Programas como esse repetem a mesma lógica de escolher áreas e os grupos de excelência para financiar, deixando à míngua outras áreas. Particularmente aqui preocupa-me as Humanidades, que frequentemente são deixadas de lado e, dentro delas, o campo da educação, que inclusive não é contemplado com outro programa, o Ciência sem Fronteiras, que possibilita que jovens estudantes possam realizar estágios de graduação no exterior.
O debate sobre a ciência, tecnologia e inovação não é algo que deva ficar restrito somente aos cientistas e, menos ainda, somente envolvendo aqueles dos grandes centros brasileiros. Estar aqui, na região Amazônica é vital para o país, pois essa itinerância, de fato, promove uma articulação nacional contribuindo, mesmo que modestamente, para diminuir as desigualdades regionais.
Associado a isto, a preocupação com a divulgação científica é básica para que a produção de conhecimento realizada nas universidades e centros de pesquisa precisa circular. Precisam estar na mídia e nas escolas, desde os primeiros anos.
Preocupado com a ampla divulgação da ciência e da SBPC, propusemos e, pela primeira vez na história da entidade, teremos este ano a transmissão ao vivo pela web de uma parte das 199 conferência, simpósios e mesas-redondas. Criamos experimentalmente a Rádio SBPC Web.
Este projeto, proposto pela secretária regional da Bahia através do nosso grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC), que já mantém a Rádio Faced Web, foi apoiado pela turma da Universidade Federal da Acre e hoje é uma realidade. (aqui o link das transmissões). Vale destacar que o próprio projeto da rádio na UFBA foi resultado do importante Programa de Iniciação Científica (PIBIC), mantido pelo CNPq, desde o ano de 2004 com o projeto “Do MEB À WEB: o Rádio na Educação” que também é titulo de um livro nosso que discute o tema. Veja aqui no site da Autêntica..
A Amazônia, sem fronteiras, está aberta, através do Acre de Chico Mendes e de tantos outros ativistas que lutam pelas questões ambientais do planeta, para uma ampla discussão sobre a ciência brasileira, e, até domingo próximo, estaremos aqui animados com esta verdadeira festa do conhecimento e dos saberes.
Ouça a vinheta das transmissões, uma colaboração da nossa Rádio Educadora da Bahia.
Vinheta web
Vinheta rádio