Férias, cinema e educação

Boa parte da nossa juventude está de férias (menos nós da Ufba que por conta da última greve continuamos a labutar num difícil semestre de Verão!). Essa turma de férias quer se divertir e ir ao cinema é sempre muito bom. Mas isso, além de caro, esbarra em outro problema: a falta de opção.

Das cerca de 2.500 salas de exibição no Brasil, 61% estão hoje ocupadas com o filme Hobbit. Em outros momentos, esse índice já foi maior para um único filme. Hoje, 81% das salas estão com filmes estrangeiros, enquanto 60 nacionais aguardam sua vez para chegar à telona das salas escuras, segundo entrevista do novo secretário do Áudiovisual do Ministério da Cultura, Leopoldo Nunes.

No começo deste mês, em Cachoeira, a UFRB promoveu o (muito bacana!) III Cachoeira Doc (//www.cachoeiradoc.com.br), organizado pelas professoras Amaranta Cesar e Ana Rosa Marques. Num dos debates que lá ocorreram, Silvio Da-Rin, ex- secretário do Audiovisual do MinC, afirmou que de 1995 para cá cerca de 855 filmes brasileiros foram lançados, sendo que somente 50 atingiram mais de um milhão de assistentes, e todos esses ligados à música ou ao futebol. Óbvio que isto indica a necessidade de fortes investimentos na formação de plateias. Formação essa que é tarefa das políticas públicas e dos governantes, mas é também papel de educadores e pais.

Insisto na ideia de que as escolas se constituem em privilegiados espaços para esta tarefa. Assistir a um bom filme é, muitas vezes, muito mais rico do que horas de aulas do tipo distribuição de informação ou conteúdo! O sistema educacional público, com prédios escolares espalhados por todos os cantos do país, se beneficiados com recursos para sua qualificação arquitetônica, poderia implantar, paulatinamente, espaços para exibição que atenderiam não só aos estudantes, mas toda a comunidade.

A programação para essas novas salas de exibição já está disponível, pelo menos para os primeiros passos. Refiro-me ao projeto Programadora Brasil (//www.programadorabrasil.org.br), programa da mesma Secretaria do Audiovisual do MinC, coordenado pela Cinemateca Brasileira. O seu catálogo já conta com cerca de 825 filmes nacionais e a expectativa deles é de se chegar a 4 mil daqui a dois anos. Hoje estão cadastrados 1.625 pontos de exibição espalhados por 850 dos cerca de 5.500 municípios brasileiros. Ainda é pouco, certamente, mas é um bom começo.

Em Salvador, dos 23 pontos de exibição, apenas um é dentro de uma escola, a escola municipal Eugenia Anna dos Santos, que integra o terreiro Ilê Axé Ôpo Afonjá, sob a liderança de Mãe Stella de Oxóssi.

Trazer para as escolas e universidades a prática cotidiana de se assistir a um bom filme é um importante passo na construção da cidadania e isso não é algo que pode esperar um amanhã distante.

 

Artigo no Correio*, de 22.12.2012, pag. 2. Link para o original.

Deixe um comentário