Desde o ultimo dia 4, Salvador vive o seu período de festas populares. Começamos de vermelho com Iansã e S. Bárbara e chegaremos à todas as cores e folias no Carnaval.
As festas, todas elas, mudaram muito. A cidade mudou. Penso que não cabe relembrar o passado como se ele pudesse voltar. Ele passou, o presente está em curso e será passado amanhã. Lembrar das festas de outrora é muito bom porque possibilita pensar o que elas são hoje e, quem sabe, o que serão amanhã.
Encontrei recentemente Isabel Gouveia, fotografa, ativista e coordenadora da Oi-Kabum que reinaugurou a exposição Festas Populares, agora no Palácio Rio Branco. Bel me conta que quando a exposição estava no Pelourinho, um morador chegou ao seu lado e, de mansinho, disse: “esta exposição corre nas minhas veias!”. Perfeito. É a sensação que temos quando vemos os vídeos, fotos e textos e sabemos que tudo aquilo foi realizado pelos jovens do projeto, que percorreram os locais das festas, conversaram com as pessoas que fazem e vivem essas manifestações e, com uma sensibilidade à flor da pele, montaram a exposição e os Almanaques que nos levam pela riqueza cultural dessa Bahia de tantas festas e festanças.
Fico emocionado, logo me vem à mente o papel da educação e o quanto ainda longe estamos de pensar a escola com essa grandeza. Lembro de Rino Marconi lá pelos anos 80, ali mesmo no Pelourinho que ainda tinha o Maciel, com suas latas fotográficas também colocando a meninada para registrar tudo. Na lata e na memória!
Projetos como esses contribuem para formar a meninada e destaco, entre outros, a Cipó, o Cria, Ylê, Olodum e o Axé, que fez 20 anos, penando com a falta de apoio e recursos.
Esses projetos articulam a sociedade civil organizada em busca do resgate dos valores e saberes de uma juventude privada de tudo. Me parece fundamental articular a escola com ações desta natureza. Também afirma isso Cesare “Axé” de la Roca em recente entrevista à Muito. Entrevista emocionante e, ao mesmo tempo, triste. Mas, assim como ele, eu também “não perdi a capacidade de sonhar”. Axé.
Publicado em A Tarde, 14.12.2010, p. A3