Redes colaborativas: o nó da questão

Nelson Pretto – Diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Curador-associado do ciclo de debates Além das Redes de Colaboração: diversidade cultural e tecnologias do poder.

Novas mídias, conexão digital, tv pela internet ou celular. Conexão total. O Ministro da Cultura quer bandalargar o país. Vai a Piraí, no Rio de Janeiro e, junto com ele, um monte de gente que, durante um dia inteiro, discute o que se está fazendo neste Brasil afora. E adentro! Pensam em voz alta sobre o que é possível fazer com o uso das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Piraí é uma das primeiras cidades totalmente conectadas, através de redes sem fio, bancada pelo poder público, com o objetivo de não deixar que o fosso digital separe ainda mais nossa sociedade, já tão desigual e injusta. Piraí virou um espécie de ícone do tema. E precisa ser pensada como o pontapé inicial de políticas públicas mais corajosas de intensificação de processos colaborativos em rede, envolvendo educação, cultura, ciência e tecnologia.

As redes, potencialmente, conectam pessoas, instituições, setores e podem produzir novas articulações e ações. Com elas, e com as pessoas se apropriando das tecnologias, novos saberes são produzidos, emergem novas formas de ser e de pensar esse nosso alucinado mundo contemporâneo. Passamos a conviver, mesmo com todas as conhecidas dificuldades de acesso, com novas linguagens e novas formas de expressão, que demandam um olhar mais atento. Associam-se essas linguagens ao movimento da população jovem, que já convive com o universo de imagens e informações. Alguns pensam que isso só está acontecendo com os jovens das camadas mais abastadas da sociedade, população de classe média e alta. Ledo engano! Não podemos esquecer que as classes desfavorecidas encontram outras formas de fazer parte desse universo, tomando posse de muitas dessas tecnologias e saberes, seja através de movimentos como o hip hop, os raps, os bailes funks, a música eletrônica, seja através das inúmeras lan houses espalhadas por todos os cantos das cidade, especialmente nos caminhos que levam à escola. Apropriam-se dessas linguagens também através das rádios livres e comunitárias, produzidas pela meninada e colocadas na internet, intensificando a dimensão produção, em lugar da perspectiva de meros consumidores que ainda insiste em ser dominante na sociedade. Tudo isso vem trazendo novas possibilidades e começamos a vivenciar grandes transformações nos comportamentos dessa turma que futuca tudo, recriaando, combinando e recombinando. Enfim, a onda é remixar e, essencialmente, partilhar.

Essa meninada, tomando pra si esse estilo multitarefa de produzir e consumir, usando o seu jeito alt+tab de ser, que é como denominamos essa juventude que, com o movimento das duas teclinhas do computador, abre dezenas de janelas, conversa com um monte de gente, “tudo ao mesmo tempo, aqui e agora”, como já diziam os Titãs há algum tempo atrás.

Começamos a pensar sobre todo esse movimento e resolvemos não fazer isso sozinhos. A Associação de Software Livre, a Casa de Cinema de Porto Alegre e o Projeto Software Livre do Rio Grande do Norte capitanearam a proposta, que, depois de trabalhada dentro do mesmo espírito alt+tab, remixando idéias e conceitos, gerou o ciclo de debates Além das Redes de Colaboração: diversidade cultural e as tecnologias de poder. Dois pólos, dois Rio Grandes, um do Norte e outro do Sul, foram mobilizados para sediar as conversas presenciais, dentro do programa Cultura e Pensamento, do Ministério da Cultura, com a expectativa de, a partir deles, podermos agitar muito mais gente, do Leste e do Oeste, das capitais e dos interiores. Pela web, os debates poderão ser acompanhados ativamente através da TV Software Livre, que usando tecnologias livres, disponibilizará tudo que estiver acontecendo nas noites de 15 a 18 de outubro, em Porto Alegre, e de 7 e 10 de novembro, em Natal, onde também acontece o III Encontro Potiguar de Software Livre (EPSL – http://rn.softwarelivre.org). Imagem e som saindo dos Rio Grandes e chegando aos quatro cantos do mundo, associado com a possibilidade de participação integral a partir de uma sala de conferência (chat) aberta na internet, desde já, conclamando todos a entrarem nessa conversa através do blogue do projeto (http://alemdasredes.softwarelivre.org )

As possibilidades são muitas, os desejos maiores, e os desafios postos. A rede começou a ser formada sob a curadoria de Sérgio Amadeu, conhecido ativista e pesquisador do tema, que está em São Paulo. Junto com ele, eu, aqui na Bahia, na Faculdade de Educação da UFBA, e Giba Assis Brasil, um dos grandes roteiristas do cinema brasileiro, lá em Porto Alegre. Tem gente envolvida em Natal, mais alguns aqui na Bahia e em São Paulo. Nelson Hoineff, num debate sobre a televisão pública que se anuncia, disse em Salvador, no mês de agosto passado, que “o mundo digital implodiu a comunicação de massa”. Queremos, aqui, contribuir com isso, pondo mais elementos nessas possibilidades trazidas pelo digital, visando a implantação de processos horizontais de comunicação. Aí, quem sabe, resida o verdadeiro nó da questão.

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