Escola é lugar de criança!
Nelson Pretto (*)
Artigo que escrevi para A Tarde, de 14/05/2006, pag. 04 – arquivo em pdf
Criança na escola para aprender, brincar, produzir conhecimentos e culturas e, também, para não fazer nada! Escola é lugar de criança o dia todo! Mas não basta deixá-las lá o dia todo.
É preciso mais, muito mais. É preciso preparar a escola para acolher a criança nesse tempo. Duas questões nestas poucas linhas, destaco: o professor e o espaço físico.
Recente pesquisa da Unesco apontou o Brasil como um dos países com menor grau de formação de seus docentes, com 92% dos professores brasileiros das séries iniciais tendo apenas o ensino médio, mais um ou dois anos de formação específica.
Portanto, sejamos diretos e claros: sem professor preparado (e bem remunerado!), não tem escola de tempo integral que dê conta dos desafios do mundo contemporâneo. Mas precisamos também de escolas com generosos espaços. Não podemos ”amontoar“ as crianças o dia todo em cubículos sem ventilação, sem iluminação, biblioteca, área verde e outras coisas mais. Precisamos do espaço físico concreto, mas também do virtual. Precisamos de uma escola escrita com o “e” grandão. O mesmo de Educação, uma educação de sentido amplo, não tendo como referência, necessariamente, o imediato, o agora, os tradicionais níveis e áreas de conhecimentos já estabelecidas. Precisamos de uma educação que viva o presente, sempre de olho no passado, para não perdermos as nossas referências, mas vislumbrando um futuro que construiremos juntos, um futuro não desigual, mas justo, ético e que tenha na cooperação um dos seus elementos mais fundamentais.
Claro que lembro imediatamente de Anísio Teixeira (educador nascido em Caetité, em 1900, e falecido em 1971, no Rio de Janeiro, e adepto das teorias do americano John Dewey – Teixeira acreditava na escola como instrumento formador do cidadão democrático) e da Escola Parque. Em um discurso meio estranho para aqueles que pensam pequeno, Anísio dizia, ao inaugurar a Escola Parque, em 1950: “Tudo isso soa como algo de estapafúrdio e de visionário. Na realidade, estapafúrdios e visionários são os que julgam que se pode formar uma nação pelo modo que estamos destruindo a nossa”.
A Escola Parque com seus 42 mil m² de área verde, com teatro, biblioteca, oficinas, padaria, salão de beleza, campos de esportes, hortas, banheiros, setor de serviços foi – e é ainda! – um projeto (educacional e arquitetônico) arrojado e provocante, incrustado numa região pobre da cidade. Ao lembrar da Escola Parque de Anísio Teixeira, constato que ali estão as bases da tal escola do futuro de que tanto se fala. Com algumas atualizações, sem dúvida, podemos dizer, sem medo de errar, que a escola do futuro foi criada em 1950, por Anísio Teixeira, e está na Caixa d’Água, em Salvador da Bahia.
(*) Nelson Pretto é diretor da Faculdade de Educação da Ufba. É autor do livro Tecnologia e novas educações, pela EDUFBA.
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