Big Mother.

Minha mãe me ligou eufórica, dizendo: “ganhamos, meu filho!”
Ganhamos?!, perguntei eu… Nem lembrava que havíamos jogado alguma coisa, apesar de saber que a gente sempre sonha em ganhar nas loterias, mesmo sem nunca ter jogado…
Insisto: “mas minha mãe, na verdade, ganhamos o que?”
“Meu filho, você não sabe? Jean ganhou?!!”
Huuuummm, agora entendi.. Minha mãe falava do Big Brother e da vitória do baiano e professor (vejam só!!!) Jean na tal competição. Ela estava falando do gran finale do programa da Rede Globo de Televisão. Ao longo dos últimos 90 dias ele ocupou milhões de lares brasileiros. Claro que o da minha velha também! E como ela é incluída digitalmente (ooppss!), poderia ter sido contada por uns três ou quatro lares. Sim, porque ela assistia – assistia, não, vivia… – pela TV (na verdade, pelas TVs espalhadas pela casa!) 24 horas por dia. Estava na tal casa armada na cidade cenográfica da barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, como se fosse a sua própria casa. Conversava com eles, reclamava e, como toda boa mãe, dava broncas. Quantas vezes cheguei à sua casa e a encontrei susurrando: “Mas Rógério! Não pode ser assim, meu filho! Tem que ter ética!!!” Além de mais uma irmão, que eu não conhecia, fiquei pensando que ela estava pirando, claro.
Pela internet, que para ela também se escreve com “i” minusculo, como telefone também assim há muito já se escreve, ela vivia e votava.. Votava… Votava sem parar, porque descobriu que se começasse um pouco antes, não enfretava as dificuldades dos congestionamentos da rede e do próprio sítio da globo. Passou a entender de tráfego de rede também a minha ciber-mãe!!! Não satisfeita, gastava R$ 0,50 a cada vez que, por telefone, ligava para dar votos e derrubar os concorentes de seu mais novo e adotivo filho.
Na madrugada, quanto todos os gatos são pardos e as pessoas mais velhas não precisam estar sob os olhos atentos dos filhos ciosos de sua saúde, lá estava ela no seu quarto, até as quatro, cinco ou seis da manhã, acompanhando o movimento da tal casa. E reclamava. Reclamava muito da edição de imagens, que insistia em colocar câmeras fixas em comôdos com muito pouco movimento. Queria mais animação… Queria ver os detalhes, cada detalhe! Dia e noite!!! Como é a televisão hoje, com cortes rápidos e edição ligeira…
Quando vejo essas coisas, esse envolvimento de pessoas da chamada terceira idade, penso nos trabalhos de inclusão de jovens e mesmos de idosos nesse mundo tecnológico.
Vejo esses esforços como importantes iniciativas, mas sendo feitos com inúmeras regras e procedimentos pedagógicos. Fico, cá comigo, pensando o quão fundamental é, para pessoas como a minha mãe, ter a oportunidade de viver a rede internet.
Viver esse universo comunicacional de forma plena pode ser rico e se constituir num espaço de inclusão social, que, diga-se de passagem, é muito mais do que a dita inclusão digital!
Claro, que precisamos estar atentos aos exageros cometidos pela minha mãe e, como ela, por tantos outros, jovens ou idosos.Mas, num mundo onde provavelmente o novo Papa será conhecido através de uma mensagem eletrômica (MSM) de celular, ao invés da famosa fumacinha anacrônica saindo do alto da Capela Sistina, ter essas possibilidades é, de fato, uma transformação radical.
Se é para o bem da humanidade, ainda não o sabemos. Mas, que foi para o bem de minha mãe, isso eu não tenho a menor dúvida.
Habemos papa, apita o meu celular. Deixa eu ver rapidinho a tv e as noticias na internet. Quem sabe eu consiga ver uma edição histórica das fumacinhas no alto do Vaticano!!!

Deixe um comentário