– Postado por Giltanei Amorim

Videoarte        

Definição

O barateamento e a difusão do vídeo no final da década de 1960 incentivam os usos não-comerciais do meio por artistas do mundo todo, e sobretudo por aqueles que já experimentavam as imagens fotográficas e fílmicas.  A partir desse momento, o vídeo e a televisão entram em cheio no trabalho artístico, freqüentemente associados a outras mídias e linguagens. Os desenvolvimentos da arte pop, do Minimalismo e da Arte Conceitual tomam a cena dos anos 60 e 70, sobretudo nos Estados Unidos. Nesse momento, instalações, performances e happenings são amplamente realizados, sinalizando um certo espírito das novas orientações da arte: as tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo, à natureza, à realidade urbana e ao mundo da tecnologia. Cada vez mais as obras articulam diferentes modalidades de arte – dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. -, desafiando as classificações habituais, colocando em questão o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte.

A introdução do vídeo nesse universo traz novos elementos para o debate sobre o fazer artístico. As imagens projetadas ampliam as possibilidades de pensar a representação, além de transformarem as relações da obra de arte com o espaço físico, na esteira das contribuições minimalistas. A videoarte parte da idéia de espaço como campo perceptivo, defendida pelo minimalismo quando enfatiza o ponto de vista do observador como fundamental para a apreensão e produção da obra. Mas se o trabalho de arte na perspectiva minimalista é definido como o resultado de relações entre espaço, tempo, luz e campo de visão do observador, o uso do vídeo almeja  transformar de modo radical as coordenadas desse campo perceptivo, dando novo sentido ao espaço da galeria e às relações do observador com a obra. Colocado numa posição intermediária entre o espectador do cinema e o da galeria, o observador/ espectador da obra é convocado ao movimento e à participação. Uma nova forma de olhar está implicada nesse processo, distante da ilusão projetada pela tela cinematográfica e da observação da obra tal como costuma ocorrer numa exposição de arte. O campo de visão do espectador é alargado, transitando das imagens em movimento do vídeo ao espaço envolvente da galeria. As cenas, sons e cores que os vídeos produzem, menos do que confinados ao monitor, expandem-se de modo geral sobre e ao redor das paredes da galeria, conferindo ao espaço um sentido de atividade: o olho do espectador mira a tela e além dela, as paredes, relacionando as imagens que o envolvem. Se a videoarte interpela o espaço, visa também alterar as formas de apreensão do tempo na arte. As imagens, em série como num enredo ou projetadas simultaneamente, almejam multiplicar as possibilidades de o trabalho artístico lidar com as coordenadas temporais.

A videoarte deve ser lida na esteira das conquistas minimalistas, como dito, mas também da arte pop, pela sua recusa em separar arte e vida por meio da incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema. As performances e happenings largamente realizados pelos artistas ligados ao Fluxus, por sua vez, aparecem diretamente ligados à videoarte. As realizações Fluxus justapõem não apenas objetos mas também sons, movimentos e luzes num apelo simultâneo aos diversos sentidos: visão, olfato, audição, tato. Nelas, o espectador deve participar dos espetáculos experimentais, em geral, descontínuos, sem foco definido, não-verbais e sem seqüência previamente estabelecida. Ampliando o recuo temporal, é possível localizar ecos dadaístas, sobretudo dos trabalhos tridimensionais de Marcel Duchamp (1887-1968) – The Large Glass (1915-23) e To be looked at (from the other side of the glass) with one eye, close to, for almost na hour, conhecido como Small Glass (1918) – e de seus trabalhos óticos, Rotary glass plates (precision optics) (1924) e Anemic cinema (1926).

Impossível dar conta das inúmeras produções do gênero em todo o mundo e da variedade que marca as obras, definidas como videoinstalações, videoperformances, videoesculturas, videopoemas, videotextos etc. Em solo norte-americano, centro irradiador dessa modalidade artística, destacam-se os nomes de Vito Acconci (1940) – Undertime (1973), Air time (1973) e Command performance (1974), do músico e artista multimídia N. June Paik – TV garden (1974) e Magnet TV (1965), de Peter Campus (1937) – Shadow projection (1974) e Aen (1977), Joan Jonas (1936) – Funnel (1974) e Twilight (1975) e Ira Schneider (1939) – Bits, chuncks & prices – a  video album (1976). Artistas ligados ao minimalismo, como Robert Morris (1931), fizeram proveitoso uso de filmes e vídeos em seus trabalhos – Pharmacy (1962) e Finch College Project (1969). Os chamados pós-minimalistas, por sua vez, exploraram também as imagens, sobretudo o vídeo: Richard Serra (1939), Keith Sonnier (1941), Bruce Nauman, Robert Smithson (1938-1973) entre outros. O nome de Bill Viola (1951) deve ser lembrado como um importante expoente no campo das videoinstalações.

No Brasil, o desenvolvimento da videoarte remete à expansão das pesquisas no interior das artes plásticas e à utilização cada vez mais freqüente, a partir dos anos de 1960, de recursos audiovisuais por artistas como Antonio Dias (1944), Artur Barrio (1945), Iole de Freitas (1945), Lygia Pape (1927-2004), Rubens Gerchman (1942 – 2008), Agrippino de Paula, Arthur Omar (1948), Antonio Manuel (1947) e Hélio Oiticica (1937-1980). Apesar das controvérsias a respeito das origens da videarte entre nós, os estudos costumam apontar Antonio Dias como o primeiro artista a expor publicamente obras de videoarte (The illustration of Art – Music Piece, 1971). O uso do vídeo como meio de expressão estética por artistas brasileiros tem como marco a exposição de 1974 realizada na Filadélfia, quando expõem: Sônia Andrade, Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger (1933), Ivens Machado (1942) e Antonio Dias. Na seqüência, outros artistas somam-se à geração primeira: Paulo Herkenhoff, Letícia Parente e Miriam Danowski. Em São Paulo, as experiências iniciais com a videoarte aparecem em 1976 em torno do MAC/USP, sob direção de Walter Zanini. Nesse contexto, destacam-se: Regina Silveira (1939), Julio Plaza (1938-2003), Carmela Gross (1946), Marcello Nitsche (1942), entre outros.

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural – http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3854

One Response to “– Postado por Giltanei Amorim”

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