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A Revolução que começou pelo rádio.
Kelly Ludkiewicz Alves
Professora da Faculdade de Educação da UFBA
No dia 25 de abril se comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal. Também conhecido como 25 de Abril, o Movimento das Forças Armadas, liderado maioritariamente por militares capitães do exército que participaram nas Guerras Coloniais em África, depôs o regime do Estado Novo vigente desde 1933. O processo político desencadeado pelo movimento de abril culminou na redemocratização do país com a entrada em vigor da nova Constituição, em 25 de abril de 1976, mesmo dia das primeiras eleições legislativas da nova República. Desde então a data é celebrada em Portugal como o feriado nacional do “Dia da Liberdade”.
Para celebrar a efeméride gostaria de contar sobre o papel significativo que o rádio desempenhou na eclosão do Movimento e nos momentos que sucederam à derrubada do regime fascista. Era 24 de abril, às 22:55, quando a rádio Emissores Associados Portugueses tocou a música “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, bastante popular por ter ganhado o Festival RTP da Canção. A emissão da ousada letra era o sinal para que as tropas estivessem preparadas e a postos para iniciar o levante. Trata-se de uma canção romântica que apesar de não ter conteúdo político era considera bastante progressista para ao padrões de comportamento da época, como por exemplo, quando o eu lírico diz “Tu vieste em flor. Eu te desfolhei”.
A senha definitiva que daria a ordem para a saída dos quartéis em todo o país também veio do rádio, dessa vez, da emissora católica Renascença, que às 00:29 emitiu a canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso. A rádio foi escolhida por sua cobertura nacional, de importância estratégica para os oficiais. Entretanto, a emissão de uma canção de protesto por uma emissora católica também simbolizava o início da derrocada definitiva da ditadura que assolou o país por mais de 40 anos. A canção é até hoje um hino que simboliza a luta popular, pela liberdade e contra o fascismo em Portugal e em todo o mundo.
Ao longo daquela madrugada, vários pontos de Lisboa foram ocupados pelas tropas militares, dentre eles a Rádio Marconi, a Radiotelevisão Portuguesa e a Rádio Clube Português. Esta considerada um lugar estratégico de onde foi emitido o primeiro comunicado do Movimento às 04:30. Na mensagem Luís Filipe Costa tranquilizava a população, pedindo que permanecesse em suas casas, e recomendava às forças policiais que não oferecessem resistência, evitando com isso o derramamento de sangue.
Após uma madrugada decisiva para a história de Portugal e à medida que as cidades iam despertando por todo o país, a população percebia através do rádio que uma mudança importante na vida política estava em curso. Como deve ser, naquela manhã de 25 de abril era “o povo quem mais ordena”. Viva os 50 anos da Revolução dos Cravos! “Foi bonita a festa, pá!”
Publicado em A Tarde 24.04.2024.