Artigo de Nelson Pretto em A Tarde de 27/01/20 sobre a desativação de um colégio público em Salvador

Ocupa Odorico
Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA – nelson@pretto.pro.br
Recentemente, o governo estadual anunciou a desativação do colégio Odorico Tavares, localizado no nobre bairro da Vitória, em Salvador. Isso já vinha sendo ventilado por meio de diversas manifestações públicas do governo, que afirmava que o colégio vinha tendo baixa procura de alunos. A desativação e venda de um equipamento daquele porte, sob o argumento de que com o valor arrecadado poderiam ser construídos outras escolas, é simplesmente inaceitável. Fechar um colégio como o Odorico, numa região central da cidade, não é algo que possa ser feito sem pesquisas e amplo debate com a sociedade.
Em protesto, um pequeno grupo de estudantes ocupou o colégio. Permaneceram por lá pouco tempo, pois lhe faltou maior apoio da sociedade.
É fato que caiu muito o número de matrículas, e isso vem acontecendo em todo o sistema público, não só na Bahia, pois é evidente o desencanto das juventudes com a educação, especialmente no ensino médio. No caso do Odorico, isso se deu sobretudo por falta de apoio e incentivo da própria SEC, que se esquivou de promover a escola e fortalecer seus professores. Ora, o currículo poderia ter sido restruturado coletivamente, de forma radical, para ali ser construído um projeto revolucionário de educação, com foco na cultura, nas mídias e tecnologias contemporâneas, campo que demanda enorme qualificação no mundo de hoje, articulando tudo isso com os fazeres e saberes populares. Esse Odorico fortalecido poderia se constituir também em um espaço de cultura para o bairro e a cidade, com formação artística e infraestrutura de teatro, formação cênica, musical, entre tantas outras linguagens.
Minha colega Inez Carvalho, da Faculdade de Educação, em postagem nas redes, nos provoca: “e não se pode fechar um colégio?”. Sim, também creio que isso seja possível, mas com fundamentos baseados em pesquisas e não apenas na constatação da diminuição do número de alunos. A própria Inez se pergunta: “Um potente dispositivo urbano público no Corredor da Vitória não poderia ser um dinamizador da vida da cidade?”. Penso que justo aí estaria a chave da solução do problema: pensar esse espaço com algo público, que viabilizasse um projeto revolucionário de educação para a cidade. Sim, falo em revolucionário, pois estamos cansados das políticas públicas que propõem somente mais do mesmo.
Ainda poderíamos pensar numa parceria com a UFBA para, assim, recuperar e atualizar o projeto de um Colégio de Aplicação. Esta semana mesmo, fiz publicamente proposta à nossa FACED, no sentido de que levasse ao Conselho Universitário da UFBA a ideia de criação de um canal de negociação com o Governo. Desse modo, quem sabe seria viabilizada essa ou outras soluções para o Odorico. Uma articulação UFBA – Governo Estadual poderia ser uma grande contribuição para nossa cidade, impedindo que um colégio daquela magnitude fosse entregue à especulação imobiliária.
Baixar o pdf da página do jornal aqui.
A Tarde, 27/01/2020,pag. 3

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