As demandas da educação estão em contínua transformação. Não apenas desde a época em que você frequentou a escola, mas especialmente neste período em que nossas crianças e adolescentes tem vivenciado a escolarização.
O fenômeno que observamos nos cotidianos escolares não é específico destes espaços. O quadro negro, os livros didáticos, apostilas, já não chamam mais a atenção. A hiperconexão, a ubiqüidade e as práticas colaborativas oportunizaram novos horizontes para as iniciativas de fomento à aprendizagem e para a atividade docente.
Falando em aprendizagem, podemos constatar que, tanto na escola quanto em casa, os guias de ensino sempre foram os recursos preferenciais para compor a mediação deste processo junto aos estudantes. A expectativa posta sobre os chamados livros didáticos sempre esteve relacionada à orientação dos conteúdos curriculares que se espera oferecer aos alunos. Para os professores, em muitos casos, eles serviram como referência para o seu próprio planejamento didático – ajustavam o que se queria/precisava ensinar ao que estava disponível previamente no livro, definido pelos autores, editoras e pelas instituições de controle e normatização da educação.
No entanto, sempre houve professores que não se sentiam contemplados pelo que era oferecido pelos livros didáticos. A emergência da cibercultura, enquanto movimento de exploração e incremento dos potenciais da internet e das redes de pessoas desenvolvidas no seu entorno, fomenta entre estes professores possibilidades outras de organização da experiência pedagógica para além do uso de livros que sistematizam os conteúdos curriculares através de incursões textuais e exercícios. É preciso introduzir novos atrativos na sala de aula para os alunos.
Se antes a grande maioria dos materiais didáticos – sendo o livro didático seu representante mais peculiar, eram produzidos em espaços longínquos, distantes da sala de aula, idealizando um modelo de aluno e condições pedagógicas que não se confirmavam na prática, atualmente professores e estudantes podem utilizar-se das potencialidades da cibercultura para construir coletiva e colaborativamente seus próprios objetos discretos de aprendizagem ou recursos educacionais.
O movimento global pela promoção dos Recursos Educacionais Abertos (REA) é um exemplo de que este modelo de produção em que a autonomia, as práticas recombinantes e o compartilhamento de conteúdo a partir de licenças criativas abertas, tem força para se constituir numa alternativa aos mercados que se estabeleceram face a demanda por materiais que subsidiassem experiências de aprendizagem no âmbito escolar.
No Brasil, precisamos de mais incentivos para que estas práticas de abertura possam ser disseminadas e consolidadas. Várias iniciativas estão em curso fomentadas pelas universidades e organizações da sociedade civil, ainda assim carecem de maior apoio governamental. Tal demanda é urgente, e precisa ser tratada com agilidade para não perdermos as janelas de aprendizagem das nossas curiosas e criativas crianças em idade escolar.
Anderson Rios | anderson_gandhy@hotmail.com
Doutorando em Educação/UFBA
Professor/ Analista Cultural
Daniel Pinheiro | danielsp@ufba.br
Doutorando em Educação/ UFBA
Professor
Jornal A Tarde, 13/08/2018, pag. A2