Xô obscurantismo
Estive recentemente em Curitiba, capital do Paraná e da Lava Jato. Visitei o belíssimo MON – Museu Oscar Niemeyer. Estava interessado na mostra das obras apreendidas pela Operação, as quais deveriam estar lá, mas a sala estava fechada para manutenção, diziam os monitores.
Toda vez que visito esses espaços, fico a me perguntar por que não conseguimos atrair museus de grande porte para Salvador, que tem na cultura sua amálgama mais forte. Temos somente o MAM e Palacete das Artes, e nada mais de grandioso.
Em Belo Horizonte, encontramos o Museu de Arte da Pampulha; no Rio, os Centros Culturais BB e CEF; em São Paulo, o MASP, Tomie Ohtake e outros; em Porto Alegre, o belo Iberê Camargo, do arquiteto português Álvaro Siza Vieira, o MARGS e Santander Cultural. Neste último, nos deparamos recentemente com a covarde atitude do banco espanhol, que suspendeu a exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira”, em cartaz há quase um mês. Isso por conta de provocações lideradas pelo conservador Movimento Brasil Livre (MBL), que destilou seu ódio e intolerância nas redes sociais, alegando atentado à família, estímulo à pedofilia e zoofilia, entre outros argumentos. A exposição buscava mostrar como, através da arte, podemos ver e viver a diversidade da complexa sexualidade humana, nada mais necessário para o momento contemporâneo.
Ora, arte comportada, nem pensar! A função da arte é incomodar, isso sim! É provocar, e fazer-nos pensar sobre os nossos valores mais profundos. Há muito digo isso sobre a nobre função da educação: ela tem que incomodar e não acomodar!
Vivemos tempos obscurantistas. Não podemos baixar a guarda.
É obvio que nem todos precisam admirar obras de arte. Mas, se não gostam, que não vão à exposição. Simples assim. Agora, impedir que se aprecie essas obras chega a ser ridículo. Infelizmente, é isso que vivemos no país, trilhando caminhos perigosos da intolerância e censura.
Não podemos deixar de bradar, cotidianamente e em todos os espaços, por liberdade para a arte, para a educação, para o Brasil.
Artigo em A tarde de 19/09/2017