by Karina Menezes
Quando comecei na área tecnológica, deixei o ambiente de vendas para trabalhar com manutenção de hardware e implantação de redes. Lembro-me da expressão dos clientes ao se depararem com a imagem “do técnico” toda vez que eu aparecia para fazer um atendimento local. Mesmo ostentando uma caixa de ferramentas e metros de cabos de rede debaixo do braço, frequentemente me perguntavam com cara de espanto: onde está “O” técnico?
O preconceito e a questão da equidade de gêneros no mundo do TI foi um dos tema debatidos na Campus Party Brasil 8 em São Paulo. Mubarik Ilam, do WhatsApp e Gabriela Viana, da Xiaomi e Laura González-Estéfani, do Facebook deram seus depoimentos e impressões sobre o quanto as mulheres são mais cobradas que os homens mesmo quando realizam funções similares e ainda assim – acrescento – recebem salário muito inferior, conforme pesquisa veiculada no site Convergência Digital, chegando a 77% de diferença. Apesar de a afirmação “lugar de mulher é onde ela quiser” circular em diferentes mídias, redes sociais e ser fortalecida por discursos ativistas, na área de tecnologias frequentemente somos estigmatizadas, desvalorizadas e vitimadas, às vezes com violência.
Recentemente li um artigo escrito pela jornalista Ana Freitas, especialista em comportamento e cultura digital, no qual ela relatava situações de extremo desrespeito a que são submetidas pessoas de sexo feminino ao adentrarem fóruns e chans comuns ao universo nerd brasileiro. Na análise da Ana, esses espaços se transformaram em centros de treinamento e incentivo à misoginia e ao machismo.
Essa situação mostra o quanto a presença das mulheres no desenvolvimento tecnológico mundial é desconhecida. Histórias como a de Margareth Hamilton (responsável pelo desenvolvimento do software de controle de vôo do programa Apolo, na década de 60); ou de Ada Lovelace (matemática e escritora inglesa que escreveu o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina) permanecem no limbo, como se tudo que hoje existe tivesse sido criado por máquinas e não por gentes.
Na Campus Party Brasil 8, diversas iniciativas incentivaram a presença das mulheres no mundo da TI, buscando, ainda, dar visibilidade para outras ações com esse mesmo objetivo. Dentre essas iniciativas, destaco o trabalho e as reflexões da meninas do MNT – Mulheres nas Tecnologias, que já confirmaram presença no Fisl16, e do Grupo Womoz – Women & Mozilla.
Há mulheres envolvidas com tecnologias a muito tempo, mesmo que a história não faça jus a elas. O site Ada traz um post com o nome de 17 mulheres que contribuíram para o desenvolvimento da internet desde a década de 40. Vale dar uma conferida, divulgar e continuar trabalhando para tornar a área tecnológica uma área também de mulheres, também feminina como é a palavra “tecnologia”.
Referências
Nerds e machismo: por que mulheres não são bem vindas nos fóruns e chans. Disponível em http://www.brasilpost.com.br/ana-freitas/nerds-e-machismo-porque-m_b_6598174.html?1422906690
http://blogs.ne10.uol.com.br/mundobit/2015/02/06/campus-party-mulheres-buscam-mais-espaco-e-menos-preconceito-no-mercado-de-ti/#sthash.cL3OZIcR.dpuf FILS16 anuncia a participação do grupo mulheres nas tecnologias
Muito legal colocar na roda esse debate. Trabalhei alguns anos no desenvolvimento de software, e havia uma divisao bem clara. Na equipe de codar os softwares tinhamos 10 pessoas, sendo que 1 era mulher. Na de testes, eram 8 pessoas, todas mulheres. Na epoca achava estranho, e dizia de embolar as coisas, muito mais pelo prazer de estar num ambiente menos hete-normativo. Hoje, sei que tem muito da divisao sexual do trabalho baseado em competencias/habilidades/saberes-fazers inatos. Como se as mulheres fossem mais atenciosas, logo, melhores para detectar erros nos programas. Enquanto os homens sao mais racionais, melhores para programar processos a partir da logica de programacao. Tudo isso nao passa de estereotipo, e apenas enfraquece nossa real possibilidade de cooperacao, de fazer melhor.
Um exemplo historico de como as mulheres e os computadores tem tudo haver. Ainda na decada de 40 do seculo passado as mulheres ja protagonizavam acoes no mundo machista da INFORMATICA. As COMPUTADORAS foram as primeiras programadoras do ENIAC, um computador eletronico digital projetado por Von Neumann, capaz de calcular a balistica de armas anti-aereas. O nome computador, inclusive vem de uma derivacao da equipe de matematicas que, antes do desenvolvimento do ENIAC, realizavam o calculo (ou seja, computavam) de balistica com calculadoras.
ver foto – http://pt.wikipedia.org/wiki/ENIAC#/media/File:Two_women_operating_ENIAC.gif
PS: desculpa a falta de acentos, tou formatando um PC para ele virar LIVRE, e ainda nao achei a configuracao do teclado correta!
Bacana o comentário e as complementações, Formiga! Oportuno e necessário continuarmos a disseminar essas reflexões o ano todo, não so no mês de maio, não acha?… rs rs rs