WebCurrículo: construindo um ecossistema pedagógico

Artigo de Nelson Pretto no Terra Magazine de 11 de novembro de 2012.
Acontece de amanhã (segunda, 12.11) até a quarta-feira próxima, na PUC de São Paulo, o III seminário Web Currículo, evento que vem trazendo, ao longo dos últimos anos, importantes especialistas do Brasil e do mundo para refletir sobre aspectos do currículo num mundo 2.0.
As questões contemporâneas ligadas à aprendizagem, aos possíveis usos dos computadores, tablets e todos os aparatos tenológicos nas escolas e a importância da produção de recursos educacionais abertos, são apenas alguns dos inúmeros temas que estarão presentes nas discussões durante esses três dias.
Insisto sempre aqui no TerraMagazine – e em todos os lugares onde escrevo e falo -, na importância do fortalecimento dos professores para o enfrentamento deste desafio. Não acredito que o professor seja resistente às mudanças, desde que lhes sejam dadas as condições para tal. Os mesmos foram levados a estranhar todas as possibilidades mais radicais de transformação da escola em função das suas permanentes precárias condições de trabalho, formação e salário. A superação desta situação demanda ações em torno das políticas públicas que compreendam a educação como sendo muito mais ampla do que apenas o próprio (e complexo!) campo educacional. Necessário se faz pensar a educação fortemente articulada com a cultura, com as telecomunicações, ciência e tecnologia, só para falarmos em algumas áreas.
Seguramente os convidados do Uruguai e de Portugal trarão dados das realidades de lá para mostrar-nos como estão enfrentando os desafios. Do Uruguai, penso que a questão mais forte é a iniciativa de introduzir os computadores portáteis em todas as escolas do país com o intuito de, também, ensinar a meninada as linguagens de programação, como me disse o próprio Miguel Brechner, responsável pelo Plano Ceibal (Conectividad Educativa de Informática Básica para el Aprendizaje en Línea), a iniciativa socioeducativo do governo uruguaio. Ele estará no evento e deve contar mais um pouco disso tudo, como já defendeu também em livro, Douglas Rushkoff no seu pequeno e excelente Programe ou será Programado, ainda não traduzido no Brasil, mas amplamente disponível nas redes.
De Portugal vem o professor Paulo Dias, professor da Universidade do Minho e atual reitor da Universidade Aberta de lá, que falará sobre a aprendizagem colaborativa, tema por demais caro a nosotros, pela importância da colaboração no mundo contemporâneo.
Tenho insistido enfaticamente nesta perspectiva colaborativa da educação que vem se perdendo, a cada dia. Trago aqui uma frase do Steven Levy, que conta a história dos hackers, aqueles que com seu trabalho intenso e não encaixotado nas grades curriculares tradicionais, ajudaram a “inventar” nada mais nada menos do que a própria internet: “o que os hackers querem é essencialmente tomar as máquinas em suas mãos para melhorar as próprias máquinas e o mundo”, afirma Steven Levy logo na abertura do livro, já traduzido para o português.
Insisto em me inspirar nos hackers e lhe proponho: substitua hackers por professores e a frase continua valendo, quem sabe até mais do que no original.
Isso tudo porque vivemos um mundo profundamente transformado pela presença marcante das tecnologias digitais, que têm possibilitado a interação entre o local e o não-local de forma intensa e quase instantânea. A aproximação das pessoas e das diversas áreas do conhecimento corresponde, de forma quase que definitiva, a uma relação mais intensa da educação com a cultura, especialmente a cultura digital, transformando professores e alunos, mais do que sempre o foram, em fazedores do seu próprio tempo. A escola precisa passar a se constituir em um ecossistema pedagógico de produção de culturas e conhecimentos e não ser um mero espaço de consumo de informações.
A montagem de uma agenda afirmativa para a inserção do país com autonomia e independência num projeto de sociedade (do conhecimento) é muito importante e, para tanto, é fundamental a ampliação do acesso dos professores e alunos nesse mundo tecnológico. Necessário se faz políticas de acesso à banda larga que, também elas, superem a visão exclusiva de estímulo ao consumo de informações. É premente a montagem de um efetivo Plano Nacional de Banda Larga que de conta da perspectiva que aqui advogamos que é a de fortalecer as escolas enquanto produtoras de conhecimentos e culturas. Ou seja, queremos uma conexão decente para que possamos produzir conhecimentos e incluí-los de forma plena no ciberespaço. Por isso a importância da campanha por um banda larga púiblica e de qualidade no Brasil.
Tablets, computadores portáteis e celulares dos próprios alunos e professores, todos se conectando simultaneamente, só se constituirão, efetivamente, em instrumentos de produção de culturas e de conhecimentos se as conexões disponíveis forem efetivamente de qualidade e não os tais 20% oferecidos pelas operadoras, conforme anunciado recentemente.
Além disso, a perspectiva de produção de conhecimentos tem que superar a ideia de simples traduções de conteúdos produzidos alhures.
São inúmeras experiências que abordam esta questão e o próprio MEC tem estimulado a produção de muito material de forma descentralizada, por exemplo, através dos projetos da Universidade Aberta do Brasil. Cabe, mais do que tudo, por todo esse material disponível na rua e na rede para que possa ser amplamente utilizado por professores e alunos em todos os níveis da educação.
A educação no mundo de hoje, trazendo para si todos os espaços de aprendizagem não pode ficar indiferente e se furtar ao exame das possibilidades de uso do computador e da internet, enquanto elementos estruturantes de novos processos educacionais, novas linguagens e novas formas de se fazer ciência e cultura.

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