Ruas praticamente desertas, auto isolamento sugerido pelo governo central e, do lado de fora, as raras pessoas que caminham apressadamente ou dirigem, usam máscaras de proteção. Este é o cenário em Barcelona e várias das principais cidades da Espanha onde o avanço no número de casos do vírus Covid-19 traz fortes impactos sobre a economia, política e também no campo da sociabilidade. Se, por um lado, o esvaziamento das ruas e avenidas é visível, nas redes digitais a ocupação é expressiva.
A cultura, através dos memes e paródias, já se apropriou do fenômeno dando origem a diversas peças que levam do riso à reflexão e envolvem principalmente as temática da prevenção/proteção e críticas às iniciativas que vem sendo implementadas pelos governos de cada país. O comportamento individual e coletivo também vem sendo questionado de forma ácida e diversa através de imagens e shortvídeos que reforçam debates nas redes sociais. Como aconteceu na Itália e em outros países, também na Espanha escolas e universidades estarão fechadas de forma preventiva até o final de março o que ocasiona uma mudança na rotina de famílias e dos trabalhadores em educação justamente dois meses antes das férias de verão. Aos professores então, fica o desafio de repensar a condução dos trabalhos acadêmicos e a gestão das avaliações.
Vemos então emergir no campo da educação, por vezes avesso à apropriação efetiva das potencialidades da cultura digital em suas distintas manifestações – internet, smartphones, redes sociais, etc, uma demanda por alternativas que viabilizem seguirmos com os processos educativos neste contexto em que se notam os efeitos do Covid-19. Entre as respostas do mercado à esta realidade, está a dispersão masiva de publicidade direcionada oferecendo cursos on-line para utilização de aplicativos ou plataformas que permitem a realização do trabalho pedagógico com os estudantes à distância. Mas, no atual cenário europeu em que o teletrabalho está sendo incentivado, além das empresas, felizmente, também estão ocupando as redes digitais outras redes de pessoas preocupadas em fomentar estratégias educativas.
No twitter, por exemplo, a hastag #SOSDigitalDocente já agrega uma infinidade de referências, links e ideias destinadas a ajudar os professores a escolherem os recursos mais apropriados para trabalhar as competências curriculares. Alguns perfis inclusive chamam a atenção para a necessidade de eleger com cuidado os apps uma vez que alguns deles estão mais interessados nos dados pessoais dos usuários do que em cumprir a finalidade educativa com que se apresentam. No Instagram, a hastag #MeQuedoEnCasa, reúne postagens diversas que incentivam as pessoas a não saírem de casa para evitar o contágio. Entre as mais de trinta mil publicações destacam-se as dicas educacionais que pais e familiares podem utilizar não somente para entreter as crianças mas também para seguirem com algumas rotinas que colaboram com o aprendizado e aquisição de novos conhecimentos. No ensino superior, é notório o direcionamento das atividades para o chamado “campus virtual” mantido pela maioria das universidades em que são possíveis aulas virtuais síncronas, envio de atividades por parte dos estudantes e feedback avaliativo pelos docentes.
São inumeráveis os impactos de uma pandemia como a do coronavírus sobre os mais diversos aspectos de nossa vida social, especialmente nestes tempos de globalização. Para educação formal, está que escolas e universidades prioritariamente se responsabilizam por ofertar, um dos mais notáveis está relacionado a este reconhecimento das potencialidades das redes digitais enquanto aliadas dos processos pedagógicos. Os mesmos agentes educativos – escolas e professores, que por vezes querem impedir a utilização de smartphones, restringir o uso da internet e banir as redes sociais, agora se vem instados a abrirem-se para a conexão global via rede deixando claro que esta articulação, na verdade, é imprescindível em nossos dias e deveria ser implementada não somente em contextos de crise.
Por Daniel Pinheiro | Doutorando em Educação – GEC/FACED/UFBA
Atualmente Daniel realiza estágio sanduíche em Barcelona, Espanha.
Este texto fui publicado originalmente na versão impressa do Jornal A Tarde, 17/03/2020, pag. A4.
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