Eleições: tempo de (voltar a) falar em educação
Tempo de eleição no país. Período conturbado, é bem verdade. Até o bastião da economia liberal, a revista The Economist, prenuncia tempos sombrios para a democracia na América Latina a partir do crescimento nas pesquisas do candidato que se propõe a resolver tudo à bala. Se na hora do voto não estivermos atentos aos programas e históricos dos candidatos e de seus partidos mais riscos teremos. Sim, falo de partidos e de política.
A política é a arte da negociação e do diálogo. Essa eleição tem sido marcada pela violência verbal e de propostas de alguns candidatos, algumas muito rasas, diga-se de passagem, centradas em mais armamentos e menos tolerância com a diversidade.
A educação tem um papel fundamental na formação das juventudes para o exercício do diálogo, portanto, e em última instância, para a política. No entanto, mesmo a educação estando sempre na boca dos candidatos, estamos longe de uma revolução na área. E ela se faz necessária, e não será num curto prazo, mas precisa ser iniciada urgentemente.
Nossos jovens se desencantaram pela escola.
São muitos os possíveis caminhos, que não passam por planos mirabolantes, que impõem de cima projetos para serem aplicados nas escolas, aliados, hoje, com a forte pressão e influência das chamadas soluções de mercado. Educação não é mercadoria e não pode ser tratada como linha de produção, centrada em perfomances, produtividades, qualidades totais e outros que tais.
Precisamos de propostas que considerem os professores como fazedores do seu próprio tempo, fortalecedores dos movimentos que já acontecem no chão da escola, e não meros executores em uma linha de montagem.
O foco no professor inclui formação, condições de trabalho e, óbvio, melhor remuneração para que, com isso, possa a profissão ser atrativa. Metade dos Estados brasileiros nem mesmo respeita a lei que define o piso salarial de míseros R$2.455,35 para 40h/semana.
Focar as políticas na dimensão pública do sistema é condição básica para termos uma escola fortalecida, com professores poderosos, com a necessária liberdade acadêmica que lhe possibilitem contribuir para a formação política e científica de nossa juventude.
Uma educação que amplie o espectro formativo, a partir dos desejos e mobilizações das juventudes, e não centrada em pacotes instrucionais com foco nos testes em grande escala, em objetivos comportamentais, que buscam, em última instância, apenas comparar rendimentos, de alunos, escolas, municípios, estados e países.
Precisamos de planos de governo que fortaleçam a dimensão política da educação e não que busquem esvaziá-la de sua fundamental função que é o fortalecimento do diálogo com o diferente, com as diferenças.
Estão os candidatos preparados para fortalecer ideias como essas?
Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA. Conselheiro da Sociedade Brasileira ara o Progresso da Ciência (SBPC). nelson@pretto.pro.br
Publicado em A Tarde de 03/10/2018, pag. 03
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