Fui prestigiar e já devorei um dos oito livros do novo selo João Ubaldo Ribeiro, lançado pela Fundação Gregório de Matos. Meu primeiro foi Alzira está morta, de Goli Guerreiro, e já estou partindo para os demais.
Como educador, tenho que destacar a importância dessa iniciativa da FGM liderada por Fernando Guerreiro, ao colocar na cena baiana um conjunto de obras escolhidas por uma ilibada comissão julgadora, a partir de edital público, resultando na publicação de obras de diversos gêneros literários e faixas etárias, indo dos escritores iniciantes aos consagrados.
A tiragem inicial da coleção foi de dois mil exemplares impressos, incluindo áudio-livros e versão em braile. Tudo para ser distribuído nas bibliotecas públicas da cidade, constituindo-se em um importante material de leitura para a juventude soteropolitana. Mas além da versão impressa, os livros podem ser acessados e baixados no site da Fundação (http://bit.ly/colecaojur). Mais um ponto para projeto. O seu único pecado é não ter dado a devida atenção ao licenciamento das obras. Não há nada escrito sobre isso nas fichas bibliográficas dos livros e, claro, não custava nada ter por lá um Creative Commons (ou outra licença similar) e, com isso, garantir juridicamente toda a distribuição e uso desse rico material. Nada que desabone a iniciativa, apenas algo a ser atentado nas próximas edições, desde a escrita dos editais até a publicação dos livros.
Comecei pelo livro de Goli Guerreiro. Que deliciosa narrativa pela nossa Bahia de ontem e de hoje e, principalmente, pelo continente Africano. Uma verdadeira viagem aos antepassados negros dessa São Salvador da Bahia que tanto deve aos povos africanos. As idas e vindas de Alzira, uma personagem criada para a “ficção histórica do mundo negro do atlântico”, como diz o subtitulo do livro, vai nos levando por conhecer um pouco a personagem, suas nações, cidades, culturas e, junto com ela, um pouco de tantas pessoas que aqui conhecemos e convivemos.
Alzira é o terceiro livro da trilogia Terceira Diáspora, composta por livro impresso, blog e muito mais (veja o blog dela aqui).
Esse agora é um romance, e lhe asseguro, deve ser leitura obrigatória para nos fortalecermos na luta contra a intolerância. Ao caminhar com Alzira, vamos vendo o quanto a população africana foi discriminada no mundo todo e o quão rica foi – e continua sendo – sua contribuição para a formação cultural do planeta.
Ao passar de um capítulo ao outro – ou de um frame a outro, como gosta Goli – o que vemos é uma verdadeira lição a não ser seguida, apresentando as diversas lutas colonialistas que sufocaram violentamente as culturas africanas. Com isso, além do resgate histórico do continente Africano, vamos aprendendo, de página em página, como é importante valorizar e enaltecer as diferentes culturas, deixando de lado a ideia de superioridade de uma sobre outra.
O selo João Ubaldo Ribeiro está aí e veio para ficar. Baixe os livros e comece a leitura por qualquer um deles. O meu próximo já está sendo A devoção do Diabo Velho, de Ordep Serra, justo para não correr o risco, como ele mesmo “ameaçou” no convite, do dito cujo me pegar!