A revista Nossa Ciência publicou artigo do doutorando em Educação Cleonilton Souza, membro do GEC, sobre o tema Capitalismo de Vigilância. Capitalismo de Vigilância é um tema transversal, que envolve áreas como economia, sociologia, filosofia, comunicação, tecnologia e educação, é claro.
Leiam o texto aqui no site na íntegra:
Capitalismo de vigilância
O cidadão acorda e vai à padaria comprar pão, passa na farmácia e adquire remédios; depois enche o tanque de gasolina do carro e volta para casa. Se esse cidadão pagou tudo com cartão de crédito, todas essas ações estão agora rastreadas na base de dados do banco.
Além de ter as transações comerciais registradas nas bases de dados, a instituição financeira ainda pode rastrear os comportamentos da pessoa. Com os dados comportamentais é possível, a depender da situação, identificar hábitos, analisar ações ou mesmo prever novas ações da pessoa, como, por exemplo, comprar combustível toda semana, em determinado posto, no mesmo horário. Informações assim podem servir tanto para ações de marketing personalizado, quanto para criar perfis que servirão de base para operações de seguros, seleção em empregos ou aquisição de crédito.
Este estado de coisas é denominado pela pesquisadora Shoshana Zuboff de capitalismo de vigilância, uma nova ordem econômica mundial, bem diferente do capitalismo industrial, cujo sustentáculo era a mercadoria. No capitalismo de vigilância, o suporte econômico é o comportamento humano e quanto mais dados pessoais houver em bases de dados, mais os sistemas terão facilidade em predizer ações humanas e transformar essa nova “mercadoria” em lucros.
O capitalismo de vigilância tem como suporte avançados sistemas de tecnologias baseadas em códigos computacionais, gerenciamento de grandes quantidades de dados e conexão contínua. Empresas como Google e Facebook assumiram posições de destaque no mercado global nos últimos 20 anos por atuarem no capitalismo de vigilância e hoje estão na categoria de maiores empresas do mundo.
Ao ter a própria experiência de vida capturada de forma contínua pelas empresas, o cidadão pode ficar sem proteção e ter os direitos comprometidos diante do poderio de grandes corporações, que acumulam dados da vida das pessoas e não prestam contas sobre o destino dos referidos dados.
Essa vigilância é sutil. Vez por outra, o cidadão em compras fornece números de telefone e CPF sem se questionar o porquê de esses dados serem registrados nos cadastros das empresas ou mesmo assinam termos de compromisso na internet sem ter lido as minutas de tais documentos.
Estas questões precisam entrar no debate público, e o cidadão precisa se reeducar para esse novo mundo do capital e aprender a defender os próprios direitos quando estes estiverem sendo prejudicados por essa nova ordem do capital sustentada pelas novas tecnologias que capturam os comportamentos humanos. E cabe à sociedade criar condições para o cidadão conviver nesses ambientes cuja ordem do capital se pauta na vigilância.