É TUDO PARA ONTEM, UFBA
por Carla Aragão e Lilian Bartira Silva
Jornalistas, educadoras e doutorandas em Educação- Grupo de Pesquisa Educação Comunicação e Tecnologias (GEC) – FACED/UFBA
O Semestre Letivo Suplementar (SLS) da Universidade Federal da Bahia chegou ao final em 18/12 com uma incógnita: quais foram os aprendizados e como eles vão pautar o primeiro semestre de 2021 que inicia-se em fevereiro próximo? Não temos uma resposta oficial, tampouco um convite para construirmos essa resposta coletivamente, apenas uma certeza: é tudo para ontem. Esse sentido de urgência, aliada a uma perspectiva crítica, criativa e inclusiva, precisa pautar os encaminhamentos que serão tomados, à luz de uma profunda análise do SLS, a despeito de promover uma ampliação dos abismos existentes.
Duas importantes pesquisas revelam pontos de alerta. A primeira, realizada em abril de 2020, contou com 12.537 respondentes, revelou que quase um terço dos graduandos tem renda familiar de até 1,5 salário-mínimo; destes, 42% afirmam não dispor de recursos para manutenção dos serviços de internet; 46% não têm conexão de qualidade; e 39% não têm os equipamentos necessários. Entre os pós-graduandos, quase metade dos que possuem o mesmo perfil de renda afirma não ter recursos para acesso à internet e 29% não têm equipamentos suficientes. A segunda pesquisa, realizada no início do SLS, revelou que aproximadamente 29 mil alunos aderiram à proposta, entretanto, desconhecemos como se deu o engajamento dos estudantes, uma vez que os dados foram coletados em setembro.
A disciplina Polêmicas Contemporâneas, por exemplo, computou mais de 1.600 matriculados, alcançando uma taxa de 31,5% de concluintes com aprovação. Em avaliação realizada em seu último debate, pontos nevrálgicos foram levantados por representantes do Diretório Acadêmico e da Associação dos Pós-graduandos. Segundo eles, muitos entraves dificultaram a permanência dos estudantes: ausência de oferta de disciplinas obrigatórias; número de vagas reduzido em grande parte dos componentes; problemas de conectividade domiciliar; rotinas exaustivas, sobretudo, para as mães estudantes; exigência de produtividade pelas agências de fomento à pesquisa; evasão em função de problemas psicológicos; e contexto externo adverso por conta da pandemia.
Diante da morosidade do governo federal, dos anúncios de cortes orçamentários, do negacionismo científico, das “intervenções” nas universidades com a nomeação de reitores, das trocas de ministros no MEC, entre tantos outros absurdos, as universidades tiveram que construir seus próprios caminhos, não só para garantir o fazer científico, mas para acolher sua comunidade. O SLS da UFBA revelou que os processos precisam ser aperfeiçoados, mas indicou também que o caminho é manter-se no movimento de (re)existência. As Universidades, especialmente as públicas, precisam se posicionar nesse lugar de vitalidade, de crítica, de criatividade e, principalmente, de construção coletiva de saberes que nos ajudarão a seguirmos em frente durante e pós pandemia.