Quem somos nós, o que pesquisamos e porquê


Este projeto parte da observação de pesquisadores, professores e ativistas acerca do aumento da intolerância, o discurso de ódio e a violência no mundo contemporâneo.

A conexão global de distintos contextos culturais, ao invés de propiciar o convívio respeitoso da diversidade, tem se convertido em espaço propício para a difusão do fascismo e outras formas de violência para as quais crianças, jovens e adultos se sentem despreparados.

Também parte de um incômodo, de uma expectativa não realizada da potencialidade de empoderamento de cidadãos a partir de um contexto de imersão tecnológica dada por novas formas não hierárquicas e bidirecionais de comunicação.
Não mais condicionados por restrições técnicas, o acesso à informação e ao conhecimento, assim como a habilidade dos indivíduos lidarem criticamente com ele, ainda está subjugada a outras formas de expressão do poder que reproduzem estratégias contemporâneas de colonialismo, ao dificultar a superação do papel de consumidores para o de cidadãos na cultura digital.

Assim, chegamos ao âmago da nossa preocupação: a formação dos sujeitos. 

Na atual conjuntura, que afeta a todos mas especialmente populações vulneráveis, a educação desempenha um importante papel, pois é um espaço estratégico para a educação cidadã em bases democráticas e inclusivas.

Fonte: Acervo do Projeto Conexão Escola-Mundo, 2019.

Em especial a escola, que, se por um lado é um espaço profundamente controlado, é, simultaneamente, o lugar complexo e multifacetado de onde pode emergir uma prática transformadora capaz de propor uma educação em direitos humanos como a base da cidadania na cultura digital, imprescindível para a solução de problemas históricos da nossa sociedade.

Apoiados nesta esperança, que transcende a utopia para a ação concreta (a práxis), esta rede de pesquisadores e instituições que se apresentam juntos neste projeto propõe um trabalho colaborativo multi e interdisciplinar de ação e reflexão. Isto é, a investigação e a pesquisa de ações inovadoras na e com as escolas, que partam do chão da escola e que proponham um outro ecossistema que oriente novas práticas e políticas.

Trata da criação de uma metodologia de “intervenção” nas escolas, entendida aqui no sentido artístico do termo, que avança da contemplação e consumo das obras de arte para a participação e coautoria do público na consolidação de uma arte que se realiza em um processo de permanente devir e aproximação artista-público na vida cotidiana.

Nesta perspectiva, universidade e escola estarão juntas na intervenção-ação, que é uma prática inovadora de formação para a cidadania através da imersão na cultura digital em uma perspectiva ativista de empoderamento, autoria e produção colaborativa, que neste projeto associamos à cultura hacker.

Um hacker tem participação ativa no seu grupo social: produz conteúdos e os faz circular imediatamente para que possam ser testados e aperfeiçoados por todos. O processo de produção desses novos aparatos tem como metodologia resolver os problemas surgidos em cada um dos projetos de forma compartilhada. E cada solução alcançada circula para ser objeto de crítica de novos colaboradores.
É o que aqui denominamos de perspectiva hacker
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O objetivo final está na criação de metodologias transformadoras para a formação cidadã que estabeleçam na escola um novo paradigma, centrado em uma educação para a autoria, colaboração e produção, a escola com jeito hacker de ser.


Nosso projeto incorpora um forte componente na vertente difusão acadêmica, aproximando-se dos tradicionais meios associados à grande mídia, mas, especialmente, trazendo para o cotidiano das escolas e do projeto uma perspectiva midiativista, com intensivo uso das tecnologias digitais de informação e comunicação (TIC), com forte produção de informações e conhecimentos, em diversos suportes, promovendo uma vital aproximação com a sociedade.

Não menos importante, nessa vertente, também propõe o desenvolvimento de uma plataforma colaborativa de comunicação e colaboração, com vistas a se tornar um lugar aberto de autogestão do projeto e das ações a eles associadas.

Essa proposta de pesquisa pretende ser, de fato, a experimentação de um paradigma alternativo de educação aberta e conectada com o mundo a partir da inclusão crítica e criativa dos sujeitos na cultura digital.

Nossa hipótese é de que a perspectiva hacker pode vir a se constituir um ecossistema favorável à formação de cidadãos para os direitos humanos na cultura digital, e que pode e deve ser incorporada às práticas pedagógicas nos contextos educativos formais e não formais, assim como estar contemplada na futura discussão da política pública brasileira em educação.