A tela Global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna
Reflexões do Grupo de Estudos sobre Linguagem dos Audiovisuais do GEC sobre o livro “A tela Global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna” de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy.
Antes mesmo da discussão do texto propriamente dito, foram suscitadas algumas questões a respeito do “ponto de corte inicial” estabelecido pelos autores para proceder com a divisão das épocas que consistiria a historia do cinema, especialmente quanto ao seu inicio. A nossa questão era: Porque os autores não tomaram como “ponto de corte inicial” o começo em 1895 do cinema com a primeira projeção pública? No momento em que levantamos essa questão, houve uma inserção da abordagem de Giba Assis Brasil através do artigo “Politizando a tecnologia e a feitura do cinema” do livro para “Além das redes de colaboração”, o qual traça paralelo entre a invenção do kineskópio por Thomas Edson e do Cinematógrafo pelos irmãos Lumiere, com os respectivos desdobramentos ligados às seus aspectos intrínsecos: fechada e privada no primeiro caso; aberta e pública no segundo, e o conseqüente sucesso deste último modelo.
Depois desse parêntese, demos, enfim, inicio à leitura do tópico “As quatro idades do cinema” constante da introdução do livro base do nosso grupo de estudo. A partir de então, ficou mais claro para o grupo o critério utilizado pelos autores no estabelecimento da primeira fase, que foi localizada temporalmente não nas projeções “técnico-documentais”(termo nosso) dos primeiros cinematógrafos dos irmãos Lumiere no final do século XIX, mas a partir da segunda década do século XX, período em que o cinema se configura mais propriamente como arte, através da consolidação de produções ficcionais tais como Intolerância de Griffith [1916] ou A morte cansada[1921] de Fritz Lang.
Uma vez estabelecido o recorte histórico inicial, a partir do qual os autores definem as épocas do cinema, voltamos nossas atenções para as características de cada fase.
1ªFase. (modernidade primitiva-1916/1927): O período do cinema mudo; busca do estatuto de arte, tomando como referencia o teatro; expressividade dos atores, marcadas por mímicas hipertrofiadas e maquiagens exageradas; a figura do Star já começa a se destacar, exemplos, Greta Garbo e Marlene Dietrich.
2ªFase. (modernidade clássica-1930/1950): Introdução de várias novidades técnicas: cinema falado e mais tarde introdução da cor e telas panorâmicas; a ascensão de Hollywood: idade de ouro dos estúdios; papel quase nulo do diretor e onipresentes das produtoras; filmes presos às estruturas rígidas do roteiro; cinema enquanto principal meio de entretenimento; consolidação da figura dos stars; amores dessexualizados, linguagem literal dos atores e sistema narrativo de fácil assimilação.
3ªfase. (modernidade modernista e emancipadora-1950/1970): Independência dos criadores em relação aos grandes estúdios; O cinema de autoria; narrativas fragmentadas; As Nouvelle Vagues; linguagem contestatória; liberdade em relação ao roteiro; filmagens nas ruas; ruptura do cânon de montagem; esmaecimento da figura dos Stars em favor dos atores iniciantes ou não profissionais, não obstante ainda a forte presença de Brigitte Bardot e James Dean, por exemplo; juventude e a explosão do corpo e do sexo; valores mais ligados à individualidade dentro das sociedades de consumo e suas exaltações e críticas.
4ªfase. (hipercinema-1980/…): Inovações não mais localizadas no cinema, mas em todas as dimensões possíveis de cima para baixo, da criação à promoção até a difusão e consumo; dinâmica de individuação e globalização acompanhada pelas telas e através delas; configuração do cinema hipermoderno.
Depois desta leitura nos detemos na discussão do conceito de hipercinema, que envolve toda quarta fase. Nesta discussão, interpretamos este conceito como sendo a presença massiva da linguagem diluída do cinema no cotidiano das pessoas através das várias telas que se nos apresenta, apresentando nossos contextos locais de ação em dimensão globais. A discussão deste conceito correu junto com a dimensão social caracterizado pelo autor como galáxia cinema, termo que nos remeteu às leituras de Marshall Mcluhan e seu termo correlato galáxia Gutenberg, que é um termo que marca as características da sociedade moderna, configurada toda ela pela tipografia e a cultura das letras. Ao passo que o termo usado pelos autores do livro em questão se refere a uma perspectiva em que a cultura contemporânea global é atravessada e plasmada pelas telas.
Algumas das questões que foram retomadas e largamente discutidas através do texto por nós, referem-se ao papel da figura do ator enquanto star, nas primeiras duas fases da historia do cinema e de seu posterior esmaecimento, por um lado; e por outro, a ascensão da figura do diretor na terceira fase. Falamos dessa característica típica advinda de algumas correntes de produções cinematográficas advinda da Europa, notadamente o movimento da Novelle Vague, iniciada por Truffaut e Godard, e de sua posterior influencia inclusive no cinema hollywoodiano dos anos 70, no movimento conhecido como Nova Hollywood. Discutimos como isso contribui esteticamente e sociologicamente para antecipar o inicio de uma nova fase na história do cinema mundial, enquanto chance positiva para configuração de um cinema mais acessível para consumo e produção, voltado para o questionamento de antigos valores rígidos presentes nas fases anteriores, tanto no aspecto técnico quanto de linguagem, proporcionando a intensificação dos usos mais livres dessa mídia, favorecida também pelos avanços tecnológicos próprios de nossa época, e suas atuais reconfigurações, constituindo propriamente aquilo que o autor define como hipercinema.
Postado por Washington do Grupo de Estudos sobre linguagem dos audiovisuais, composto ainda por Darlene, Fernando, Raquel e Michel