Inclusão Digital: articulação dos nós da rede
Orientador: Maria Helena Silveira Bonilla
Bolsista: Larissa Palma Coelho
Palavras Chave: Inclusão Digital, comunidade de aprendizagem, inclusão social
EDITAL PIBIC/UFBA 01/2005
Objetivos e Justificativa:
Inclusão digital” é uma idéia/conceito que emerge no contexto dos Programas Sociedade da Informação, propostos pelos mais diversos países, e que, neste início de milênio, configura-se como uma das idéias-chave que perpassam projetos e ações nos mais diferentes campos do saber.
No Brasil, inclusão digital é tida como uma prioridade de governo. Projetos nessa área vêm ganhando destaque tanto nas esferas federal, estaduais e municipais, quanto no âmbito da sociedade civil organizada, a partir do lançamento do Programa Sociedade da Informação no Brasil Socinfo (www.socinfo.org.br), em 2000.
Tomando como parâmetro estudos que já vimos realizando sobre a temática (BONILLA, 2002) e também os projetos apresentados e os debates ocorridos em 2005 em encontros científicos realizados em Salvador (II Festival de Software Livre, Fórum de Inclusão Digital e Responsabilidade Social realizado durante a 5ª Erbase, I Fórum de Inclusão Digital/Nordeste, realizado durante o Inforum), bem como a demanda por diretrizes metodológicas para as ações de inclusão digital que vêm sendo encaminhadas à Faced, é possível afirmar que apesar do grande número de Programas e Projetos de Inclusão Digital desenvolvidos no país, ainda estamos bastante carentes de pesquisas sobre a temática; pesquisas que explorem as concepções que embasam as ações, bem como sobre as metodologias de trabalho utilizadas pelos diferentes grupos. A maioria dos grupos vem embasando-se numa idéia de senso comum e/ou mercadológica de que para incluir digitalmente basta disponibilizar o acesso e/ou capacitar a população para usar as tecnologias de informação e comunicação como consumidora de bens, serviços e informações, o que demanda apenas a oferta de treinamento aligeirado para a aquisição de competências básicas para o manuseio dessas tecnologias.
Por outro lado, entendemos que a educação e a democratização são, na contemporaneidade, processos críticos para o desenvolvimento de sociedades dinâmicas, capazes de construir seu futuro. Entendemos também que as sociedades necessitam de cidadãos e instituições que apresentem capacidades criativas, analíticas e de compreensão. Torna-se então necessário extrapolar o reducionismo feito ao conceito de inclusão digital, priorizando processos de formação e de cidadania. Estas são atitudes de ordem política que competem aos governos, às universidades e à sociedade civil e que não podem ser prorrogadas, sob pena de acirrarem-se as desigualdades sociais e a exclusão.
Buscando, portanto, extrapolar o reducionismo feito ao conceito e abordá-lo na perspectiva da participação ativa, da produção de cultura e conhecimento, o que implica vontade e ação política, e um amplo processo educativo capaz de oportunizar à população a participação na dinâmica contemporânea como sujeitos críticos, criativos, éticos, autônomos e com poder de decisão e produção, é que propõe-se a presente pesquisa.
Nesta perspectiva, esta pesquisa tem como objetivos fazer o mapeamento dos projetos de Inclusão Digital desenvolvidos em Salvador, destacando as iniciativas e as pesquisas realizadas no âmbito da UFBA; conhecer as concepções de Inclusão Digital que estão presentes nesses projetos e pesquisas; estabelecer relação entre essas concepções e as ações que são desenvolvidas em cada projeto, procurando identificar e problematizar os modelo(s) pedagógico(s) utilizados; construir um conceito de inclusão digital articulado com conceitos de inclusão social; delinear diretrizes metodológicas a serem utilizadas nos Projetos de Inclusão Digital desenvolvidos na UFBA, em nível de extensão, bem como pelos demais grupos, buscando enfocar a articulação entre Inclusão Digital e Inclusão Social; articular fórum permanente de discussão entre os diferentes grupos que desenvolvem pesquisas e iniciativas de Inclusão Digital em Salvador, de forma a constituir uma comunidade de aprendizagem em torno do tema.
Metodologia:
Para tecer o ambiente de aproximação, interação e reflexão com os diversos grupos que vêm desenvolvendo ações e pesquisas sobre inclusão digital, bem como para poder compreender as dinâmicas que estão sendo operacionalizadas nesses diversos espaços e fazer o mapeamento das intensidades das ações e dos sentidos dos discursos vinculados às ações desses sujeitos, buscaremos aportes na pesquisa etnográfica, visto ser este tipo de pesquisa a que busca a “descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo” (LÜDKE e ANDRÉ, 1986:14) , preocupando-se com “o significado que têm as ações e os eventos para as pessoas ou os grupos estudados, [sendo que] alguns desses significados são diretamente expressos pela linguagem, outros são transmitidos indiretamente por meio das ações” (ANDRÉ, 1995:19) . Tal abordagem fundamenta-se, segundo Lüdke e André (1986:15) e André (1995:28-30), em dois conjuntos de hipóteses. Um que afirma ser o comportamento humano influenciado pelo contexto em que se situa, daí a importância de observar a dinâmica dos projetos acontecendo, de dar ênfase ao processo, àquilo que está ocorrendo e não ao produto ou aos resultados finais. E outro, que determina ser quase impossível entender o comportamento humano sem tentar entender o quadro referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. Daí a necessidade de nos preocuparmos com as concepções, com a maneira própria com que as pessoas vêem suas experiências e o mundo que as cerca, de tentar apreender e retratar a visão pessoal dos participantes.
Como uma das características da pesquisa etnográfica é a descrição, os pesquisadores necessitam fazer uso de uma grande quantidade de dados descritivos – situações, pessoas, ambientes, depoimentos, diálogos. Para tanto, combinaremos vários métodos de coleta de dados, buscando delinear um quadro mais amplo da situação estudada, e dessa forma compreender as estruturas de significação que os participantes da pesquisa dão às suas práticas, as inter-relações entre as dinâmicas desencadeadas em cada comunidade a partir dos projetos ali desenvolvidos.
Um dos métodos utilizados para a coleta de dados será a observação da dinâmica dos projetos, utilizada com a finalidade de participar da vida dos grupos, perceber e conhecer os sujeitos, as formas como agem, reagem e interagem nesses grupos. Para tanto, procuraremos adotar a atitude da “escuta-sensível” (BARBIER, 1997:58-63) , a qual consiste num “escutar/ver”. Procuraremos sentir os universos afetivo, imaginário e cognitivo dos grupos para compreender do interior as atitudes e os comportamentos, o sistema de idéias, de valores e de símbolos, sua existencialidade interna. Para entrar nessa relação com os grupos, buscaremos também escutar os silêncios, característica do universo virtual de potencialidades, deixando-nos surpreender pelo desconhecido, procurando compreendê-los na situação.
Para registrar as observações feitas, utilizaremos diário de pesquisa, gravador, filmadora, máquina fotográfica. O diário de pesquisa será utilizado para que possamos anotar o que observamos, pensamos, refletimos ao longo do processo. Outro instrumento utilizado para a coleta de dados será o questionário, aplicado aos sujeitos da pesquisa, para identificar as características básicas da população e dos projetos de inclusão digital realizados. Com o objetivo de aprofundar questões que emerjam dos questionários, identificar as concepções que fundamentam as ações, as interpretações e representações que os sujeitos elaboram a partir dessas ações, estaremos realizando entrevistas semi-estruturadas com representantes da equipe de cada projeto e da comunidade participante. Também serão analisados documentos, registros e trabalhos realizados pelos grupos, que possam evidenciar as concepções e as metodologias de trabalho utilizadas, as vinculações existentes (ou não) entre elas, as situações e/ou contextos em que são utilizadas.
Para o tratamento desses dados utilizaremos software específico para análise de dados e o relatório etnográfico, produzido num espaço coletivo virtual TWiki. Nesses espaços estaremos registrando os dados coletados, descrevendo as situações, estabelecendo vínculos entre elas (pontos de aproximação e discordâncias), compreendendo-as e revelando os seus múltiplos significados. O relatório etnográfico também será utilizado como subsídio para reuniões de estudo e trabalho dos pesquisadores.
Viabilidade e Financiamento:
Por se tratar de uma pesquisa desenvolvida em Salvador, vinculada à Linha de Pesquisa Currículo e Tecnologias da Informação e Comunicação do Programa de Pós-graduação em Educação da UFBA, articulada a outras pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias – GEC (teses, dissertações e monografias), portanto contando com a contribuição de mestrandos e doutorandos, e por estarmos utilizando a infra-estrutura disponível na Faced (computadores conectados à Internet, servidores, gravadores, filmadoras, máquinas fotográficas, biblioteca), não há necessidade de aporte de recursos adicionais para o seu desenvolvimento. Consideramos perfeitamente viável desenvolver o projeto no período de um ano, ou seja, de agosto de 2005 a julho de 2006, desde que possamos dispor do número de bolsistas solicitados. Como estes são alunos que já vêem desenvolvendo estudos sobre a temática, direta ou indiretamente articulados com algum projeto de Inclusão Digital em Salvador, estão interessados em desenvolver a pesquisa e comprometidos com a construção do conhecimento na área. Logo, a implicação de todos os pesquisadores com a pesquisa é também um fator que evidencia a viabilidade da pesquisa.
Resultados e impactos esperados:
– compreensão dos processos vivenciados no âmbito dos grupos que desenvolvem ações de Inclusão Digital junto à comunidade de Salvador;
– abertura de um sítio local, utilizando sistemas livres, que servirá como espaço para a mobilização dos grupos que desenvolvem ações de Inclusão Digital para a reflexão e o debate em torno da temática (fórum permanente de discussão on-line via chat, lista de discussão, fórum, rádio web, produção de páginas) e também para a constituição de um repositório on-line, onde os diferentes grupos poderão disponibilizar seus materiais referentes ao tema, de forma a potencializar a troca de informações entre eles;
– provocação da reflexão sobre as práticas desenvolvidas nos diferentes grupos e a proposição de práticas mais conscientes e articuladas com processos de constituição de cidadania;
– elaboração de um conceito de inclusão digital articulado a conceitos de inclusão social
– produção e publicação de artigos a respeito da temática de estudo, de forma a socializar os resultados da pesquisa com outros pesquisadores e grupos de outros locais no país;
– participação em seminários da área, em nível regional e nacional, com o objetivo de divulgar a pesquisa e fortalecer o debate sobre o tema;
– contribuição com os processos de inclusão digital da população a partir do delineamento de diretrizes metodológicas, compatíveis com uma concepção social sobre o tema, e disponibilização de ferramentas livres, que possam ser utilizadas nas ações dos diferentes grupos, especialmente nos projetos de extensão da UFBA;
– fornecimento de subsídios para trabalhos de pesquisa em níveis de graduação, mestrado e doutorado dos integrantes do GEC, no que diz respeito ao tema inclusão digital
– alimentação do banco de dados público do Grupo de pesquisa Educação Comunicação e Tecnologias
– contribuição com a formação de um referencial teórico nacional nessa área emergente;
Cronograma de execução:
Agosto de 2005 a março de 2006 – Leituras e estudos em torno do tema Inclusão Digital
Agosto de 2005 – Levantamento dos grupos que estão desenvolvendo pesquisas e ações de Inclusão Digital na UFBA e em Salvador; Elaboração de questionários a serem aplicados aos sujeitos da pesquisaAbertura de espaços virtuais (sítio) para dinamizar fórum permanente de discussão entre os grupos e para repositório de materiais desses grupos
Setembro de 2005 a fevereiro de 2006 – Contato com os grupos, observação e registro das dinâmicas, aplicação dos questionários.Elaboração e realização de entrevistas com os sujeitos da pesquisa;Transcrição das entrevistas; Análise de documentos, registros e trabalhos realizados pelos grupos.Desencadeamento do processo de troca entre os grupos nos espaços virtuais abertos Relatório parcial da pesquisa
Março a junho de 2006 – Análise dos dados coletados; Produção de artigos sobre o temaManutenção do processo de troca entre os grupos nos espaços virtuais abertos
Junho de 2006 – Relatório final da pesquisa
Referências bibliográficas:
Relação itemizada das referências que subsidiam a proposta de pesquisa, colocando as mais importantes.
AFONSO, C. A. Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? Policy Paper – ILDESFES; Friedrich-Ebert-Stiftung, n. 26, setembro de 2000, 20 p.
BONILLA, Maria Helena. Inclusão digital e formação de professores. Revista de Educação, Lisboa. 2002.
BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola Aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da Sociedade do Conhecimento. Salvador, 2002. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da Bahia.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
NERI, Marcelo Côrtes (coord.). Mapa da exclusão digital. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2003.
PELLANDA, Nilze Maria. Inclusao Digital: tecendo redes afetivas/cognitivas. São Paulo : DP&A, 2005.
RHEINGOLD, Howard. A comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva, 1997
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão Digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da; CASSINO, João (org.). Software Livre e Inclusão Digital. São Paulo : Conrad do Brasil, 2003.
TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da internet. Lisboa: Relógio D’água, 1997.
Grupo de estudos
Coleta, tabulação e análise dos Dados – Larissa Coelho