Histórico da Escola de Belas Artes

Registros e um Depoimento Histórico

A participação artística e cultural da Escola de Belas Artes na comunidade baiana e nordestina sempre foi constante e expressiva: remonta à sua própria fundação, em 17 de dezembro de 1877, por Miguel Navarro y Canizares. Para a fundação da Academia de Belas Artes da Bahia, Miguel Navarro y Canizares teve o apoio do Presidente da Província, Henrique Pereira de Lucena (Barão de Lucena), e contou com a prestimosa colaboração dos artistas João Francisco Lopes Rodrigues e dos seus filhos João Francisco Lopes Rodrigues Filho e Manuel Silvestre Lopes Rodrigues, do dr. Virgílio Climaco Damásio, do engenheiro-arquiteto José Allioni, do professor primário Austricliano Ferreira Coelho e do jornalista Amaro Lellis Piedade.

A Escola de Belas Artes é a segunda escola superior da Bahia e a segunda Escola de Arte do Brasil. Escola secular, portanto, a sua contribuição histórica e artística tem presente, graças ao talento e à dedicação dos responsáveis pela sua existência, ainda mais quando as dificuldades foram sempre freqüentes.

Além das doações pessoais dos professores e alunos, em 1881, a Academia contava apenas com uma pequena subvenção de um conto de reis, votada pela Assembléia Provincial. Foi muito importante a doação do engenheiro baiano Francisco de Azevedo Monteiro Caminhoá de 120 apólices da dívida pública federal, para a instituição do prêmio de viagem à Europa. Os recursos que manteriam a Escola já estavam definidos nos seus estatutos, segundo do capítulo I, aprovados em sessão da Congregação, de 7 de fevereiro de 1928, registrados no cartório do registro de títulos e documentos, sob o número 315, livro 5, em 22 de fevereiro de 1928. Para consecução dos seus fins, além do legado Caminhoá, nos termos da respectiva verba testamentária, do material de ensino, biblioteca e mobiliário, que constitui o seu patrimônio, a Escola recorrerá ao auxílio dos poderes públicos, às taxas de matrículas, de mensalidades, de exames ou contribuições outras.

Tendo de início, o nome de Academia de Belas Artes da Bahia, passou a ser denominada de Escola de Belas Artes da Bahia, por força da reforma do ensino secundário e superior da República, em 1891, feita por Benjamin Constant. Os primeiros decênios de sua existência descrevem uma fase heróica, quando as ameaças de extinção só foram dizimadas pelo esforço comum, pelas subvenções e pela ajuda de beneméritos, como os governadores Joaquim Manoel Rodrigues Lima e Luiz Viana. Nesse período, destacam-se Manoel Lopes Rodrigues, João Francisco Lopes Rodrigues, Manuel Querino, José Nivaldo Allioni, Braz Hermenegildo do Amaral, Archimedes José da Silva, Cyrilo Marques, Agripiniano de Barros, Oséas dos Santos.

A Escola de Belas Artes alcança o fim do século XIX com o reforço de dois artistas estrangeiros: Maurice Grun, pintor russo, e o escultor Joseph Gabriel Sentis. A participação de artistas de fora do país se repetiria em 1907, com a vinda do escultor italiano Pascoale de Chirico, autor de inúmeros monumentos em praças públicas de Salvador, como o de Castro Alves e do Barão do Rio Branco; com o pintor e músico Adam Firnekaes, em 1959, e com a vinda de Karl Heins Hansen, em 1963, para o ensino da técnica da xilogravura. Os anos se sucederam, trazendo um notável elenco de mestres, alunos, intelectuais e artistas.

O início do século XX é marcado por inúmeras dificuldades, que culminam com a eclosão da Revolução de 30, quando foram suspensas as subvenções, somente restabelecidas no Governo Juracy Magalhães.

Juarez Paraíso
Ex-professor e diretor da EBA/UFBA
Professor Emérito da UFBA

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