O hacker-ARTivismo de Aaron Swartz *

 Marilei Fiorelli**

Nos Estados Unidos, o crime de ajudar a Al Qaeda a desenvolver uma bomba nuclear ou vender escravos pode resultar em, no máximo, 20 anos de cadeia.

Após o suicídio de Aaron Swartz, todos se perguntaram as razões descabidas e desproporcionais da pena que poderia ter sido atribuída a ele – além de multa de um milhão de dólares, seria condenado a cumprir 35 anos de prisão. O crime dele não foi roubar um banco, mas compartilhar dados na web.

Vivia em Nova York, e em 2009, e veio ao Brasil para participar do Fórum Social Mundial. Mas poderia-se dizer que ele vivia mesmo na rede.

Na internet, há milhares de referências sobre ele. Enquanto escrevo este texto encontro “aproximadamente 188.000.000 resultados”: a família criou um memorial on-line, onde amigos e apoiadores postam suas homenagens. Foi lançado o #pdftribute, um movimento de acadêmicos que liberaram seus escritos pela rede utilizando esta hashtag. No FB, há 36 páginas públicas sobre ele. Há uma petição on-line para a remoção de Carmem Ortiz, a juíza que determinou a pena. O grupo Anonimous, mesmo pedindo desculpas, fez uma invasão, um “defaced” na página do MIT. E seu Manifesto Guerrilla Open Acces viralizou pela rede.

Até Julian Assange, trancafiado na embaixada do Equador em Londres, apareceu em uma foto com um cartão com os dizeres Justiça a Aaron, através de um projeto de mail art de dois artistas que enviaram um pacote com uma câmera de vídeo.

Engajado, idealista e militante – muito já foi escrito sobre o ativista hacker – mas poucos conhecem o outro lado, o do artista Aaron, que co-criou um projeto de artemidia chamado Image Atlas (com a artista Taryn Simon). Sua proposta é uma espécie de filtro nos buscadores como o Google, na tentativa de revelar as diferenças culturais dos países. Em jogo nesta obra de webarte, estão a reflexão sobre a padronização e pasteurização das informações recebidas na web por meio dos buscadores de conteúdo. Ao pesquisar um determinado assunto, são carregadas imagens mais relevantes sobre ele, a partir dos resultados das buscas dos search engines de cada país. Através dessa visualização, tem-se uma síntese visual do que aquele termo significa em cada nação, em cada cultura. É interessante fruir a obra, constatando e se surpreendendo com as diferentes gamas de imagens, e consequentes conceitos, que caracterizam cada termo buscado, a partir de uma mesma palavra. Por exemplo, a busca ao termo Brasil, nos mostra imagens de bandeiras e símbolos nacionais nos buscadores brasileiros, mas fotos de mulheres de biquíni nos italianos.

A experiência trás ao espectador um ar mais subjetivo, como uma resposta pessoal, um banco de dados mais humanizado. A obra assim, põe em questão afirmações de que a internet é única, global, que os caminhos apontados pelos buscadores são os mesmos para todas as pessoas, todos os povos. Não são.

É como um visualizador instantâneo – na velocidade da internet – de culturas. Fica-se pensando qual foi a exata participação dele nesta obra. Certamente desenvolveu a

programação. Mas quais foram os motivadores que o levaram a participar? De alguma maneira, será que se sentiu representado por ela? Será que esta era a internet que ele queria? Será que poderia vir a ser mais artista, criando mais obras? Quantas obras mais ele poderia ter criado na web – a casa dele?

Aaron Swartz tornou-se bytes de informacao na rede. Livre.

Links:
www.imageatlas.org
http://www.rememberaaronsw.com/
http://lessig.tumblr.com/post/40347463044/prosecutor-as-bully
http://baixacultura.org/2011/08/12/aaron-swartz-e-o-manifesto-da-guerrilla-open-access/
http://i.imgur.com/TTmCu.jpg

**Marilei Fiorelli
artista/designer, professora UFRB, doutoranda GEC ufba
mfiorelli@ufrb.edu.br

*texto publicado no jornal da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC –  13 de Março de 2013

 

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